12 dezembro 2011


Estive a ordenar os CDs por ordem alfabética, a deitar fora as caixas, a guardá-los em pastas gigantes da Fnac e a identificar os CDs desconhecidos. Com isto tudo, acabei por estagnar num disco dos Sétima Legião com os Gaiteiros de Lisboa (L? S? G?...), um álbum ao vivo que comprei em ‘98 na Expo e que ouvi até à exaustão. Quando era miúda, vi-os ao vivo num concerto feito por uma data de bandas em memória do Zeca Afonso (Filhos da Madrugada, acho). Ao ouvi-los, apaixonei-me perdidamente pelo vocalista, um pontinho preto no meio do palco. Ter 15 anos foi assim.

Completando ciclos...

 Pi, de Darren Aronofsky (1998). Gostei muito.


Gerry, de Gus Van Sant (2002). Surpresa, o tema da morte mais uma vez. Gostei.
Sangue do Meu Sangue, de João Canijo (2011). É bom poder falar na primeira pessoa do plural desta vez. Estamos de parabéns :).

 Melancholia, de Lars von Trier (2011). Não foi completamente de cortar os pulsos para variar um pouco. Gostei. Gostei muito.

 The Ides os March, de George Clooney (2011). Mundo cão. Gostei.

A Dangerous Method, David Cronenberg (2011). Gostei, mas os anteriores tiveram bem mais impacto em mim. The Fly (1986), porque tinha seis anos e fiquei  o Verão todo sem dormir. Crash (1996) e eXistenZ (1999), não digo porquê...

01 dezembro 2011

Agora para sempre estas férias vão cheirar a coco e esse vai ser também o nosso cheiro, nós os dois... juntos... O sofá cinzento e o quadro branco. A luz que nunca antes brilhou tão bonita na sala e o rio ao longe. Não é fácil gostar muito, mais do que muito, incondicionalmente de alguém. E não é fácil que gostem de nós. Com carinho é mais fácil e ele está em todo o lado. Sinto-me uma princesa. Volto aos meus sonhos de infância. Volto a sentir-me segura. Para sempre o amor vai cheirar a coco.

23 novembro 2011

Contagion, do Steven Soderbergh (2011). Este tem feito filmes ultimamente quase com a frequência com que eu os consigo ir ver ao cinema... Depois da desilusão do The Girlfriend Experience, não esperava muito deste filme, até porque o tema não é lá muito original. Mas gostei. Gostei bastante. Penso que em parte por ter andado recentemente a ler A Peste do Camus e rever no filme muitos dos aspectos descritos no livro do qual gostei muito.
The Adventures of Tintin, de Steven Spielberg (2011). De facto, o Spielberg tem jeito para estas coisas. Está giro. Ser em inglês, então, é hilariante.
Last Night, primeiro filme de Massy Tadjedin (2011). Realmente, o ciúme é uma merda e só leva a fazer merda... Gostei.
Restless, de Gus Van Sant (2011). Gostei... Mas admito que, no que diz respeito a Gus Van Sant e a filmezinhos sobre a morte, prefiro os anteriores.

Ter mais de 30 anos tem destas coisas...

Não pesava 57 quilos desde a faculdade. Só que na altura mantinha esse peso à custa de comer chocolates quase todos os dias. Agora cheguei a esse peso à custa de correr quase todos os dias... Não me posso queixar... ambas as maneiras são fontes amáveis de endorfinas...

Ser mulher tem destas coisas...

Engordamos, dizem-nos que não nos podemos desleixar. Emagrecemos, perguntam-nos se andamos com a mania das dietas...

14 novembro 2011

Sinto que me roubaram o fim-de-semana... Não quero ir dormir...

05 novembro 2011

Submarine, de Richard Ayoade (2010). Este parece ser o primeiro filme do realizador, que de resto também só tem 34 anos. Mas, de forma surpreendente e agradável, descobri que já o conhecia por ter participado na série The Mighty Boosh. Muito cómico, o filme. E depois há a música daquele menino... :)

29 outubro 2011

Estou a tentar lavar-lhe os dentes, mas ela cerra a boca. Fico com a escova de dentes na mão a pingar para o chão da casa de banho. Ela ri-se. Suspiro... Vou buscar a chave e abro assim a garagem. Funciona, por isso enfio-lhe outra vez a escova de dentes boca adentro e continuo. Só faltam os dentes da frente, mas ela fecha outra vez a boca. Experimento a chave, só que agora a garagem está avariada. Tenho de ir buscar o mecânico que arranja a garagem e mesmo assim esta não abre. É que agora falta a chave, já me esquecia da chave. Finalmente abre a boca e acabo de lhe lavar os dentes. Levo-a ao colo até à cama, mas quando passamos na porta temos de parar para pagar a portagem. Nem acredito quando finalmente a consigo deitar na cama. Estou tão cansada e feliz que só penso que ponho sempre a pressa nas coisas erradas.

23 outubro 2011

Ontem à noite foi assim...

... envolvente, quente e doce... em Sintra.

02 outubro 2011

25 setembro 2011

Há sete anos vivi em Barcelona três meses. Foi um ponto de viragem na minha vida, o primeiro de uma série de pontos de viragem que se viriam a suceder em jeito de montanha russa ao longo dos anos seguintes. Regresso este fim-de-semana com a minha irmã e deparo-me com algumas recordações que reparo serem recordações de miúda. Meu Deus, já passaram mesmo sete anos... E o quanto eu mudei desde essa altura... E a minha irmã também... Contudo, aqui estamos nós agora, debaixo destas arcadas, como há sete anos quando ela me veio visitar. E esse sentimento, esse sentimento por ela, esse não muda nunca e essa constância dá-me uma segurança e uma felicidade muito grandes. Obrigada, mana.
The Age of Innocence, de Martin Scorsese. O que (não) somos. O que (não) sabemos de nós próprios. O que (não) conhecemos dos outros. O que (não) mostramos aos outros.

21 setembro 2011

Não é por uma doença ser psiquiátrica que se torna menos real ou mais controlável.

13 setembro 2011

Nem um dia passou e já estou a morrer de saudades. Parvalhão...
Agora entramos nós, a carrinha em movimento. Mas eu, como sempre, a mais inútil, hesitante e melancólica, tropeço e caio.
Pode fazer-se tudo para salvar um casamento, menos desistir. E foi isso que ele fez.
To have a philosophy is to know how to love. And to know where to put it. You can't put it everywhere. You'd had to be a priest saying Yes, my son or Yes, my daughter, Bless you. But people don't live that way. They live with anger and hostility and problems and lack of money and lack of... you know... tremendous disappointments in their lifes. John Cassavates in A Personal Journey with Martin Scorsese through American Movies (1995)
A menina da coroa parece tal e qual a minha irmã naquela idade. É verdade, também nós usámos coroas, exactamente assim e descemos por aquele mesmo escorrega. É ao mesmo tempo uma angústia e um consolo saber que o ciclo se repete...

05 setembro 2011

A vida com banda-sonora

Ir ao supermercado ganha toda uma nova dimensão com as músicas do Tarantino!!
Les petits mouchoirs, de Guillaume Canet (2010). Confesso que estava à espera de encontrar uma versão deslavada do The Big Chill, mas não. Gostei. (Isto sem pontuação pode tornar-se confuso...)
Beginners, de Mike Mills (2010). Gostei muito.

31 agosto 2011

Quero embarcar nesta viagem contigo, mesmo estando o mundo a desmoronar-se à nossa volta.

30 agosto 2011

Discutir com o meu chefe é como jogar xadrez contra o computador...
Para quem foi educado na religião católica, tudo o que não seja céu, inferno e claro... culpa, continua a ser, mesmo anos após se ter perdido a fé, motivo de risota. Mas depois desta minha última ida à depiladora, não duvido mais. O segredo está nos astros.

21 agosto 2011

Recentemente lido...

"A minha noção objectiva é a de que não consegui alcançar nada de artisticamente relevante. Não digo isto para me lamentar. Estou apenas a descrever o que acho que é a verdade. Sinto que não contribuí verdadeiramente para o cinema. Quando comparado com alguns contemporâneos, como Scorcese, Coppola ou Spielberg, sinto que não influenciei ninguém, pelo menos, de forma significativa. Quer dizer, vários dos meus contemporâneos influenciaram jovens realizadores. O Stanley Kubrick é um excelente exemplo. Eu não sou nenhum tipo de influência. É por isso que me parece estranho que me tenha sido prestada tanta atenção ao longo dos anos. Nunca tive um grande público, nunca fiz muito dinheiro, nunca toquei em temas controversos, nem prestei a mínima atenção às modas. Os meus filmes não inspiraram o país a discutir assuntos sociais, políticos ou intelectuais. São filmes modestos, feitos com orçamentos modestos, que não geram grandes receitas nem fazem grandes ondas no mundo do espectáculo. Os jovens realizadores não andam a tentar imitar-me e a filmar os seus filmes da maneira como eu os filmo. Nunca tive técnica suficiente nem ideias suficientemente profundas para pôr alguém a pensar. Eu sou um tipo da Brooklyn-Broadway que sabe dizer umas piadas e que tem tido imensa sorte." Conversas com Woody Allen, por Eric Lax.
Apesar de estar a ser "objectivo", é indiscutível que está também, no mínimo, a ser modesto. Foi pioneiro do cinema em géneros como a comédia romântica e o pseudo-documentário e em múltiplas técnicas de filmagem e realização inovadoras, para além de ser um bom exemplo de cinema de autor, em que tudo, desde o casting, à escrita, à realização e à banda-sonora, tudo sai daquela cabeça que, de resto, tem pouco a ver com as personagens que interpreta nos seus filmes. Extremamente melancólico, inteligente, culto e criativo, foi um prazer ler estas conversas tidas ao longo de 36 anos com Eric Lax.

14 agosto 2011

Costumávamos ir as duas a pé depois das aulas para casa dos pais dela e passávamos tardes inteiras no quarto, sem fazer nada, só a ouvir música e a falar de livros. Tardes inteiras a ouvir Smiths, Duran Duran, Pulp, Divine Comedy, Josh Rouse, Radiohead, Joy Division, Belle & Sebastian, Tori Amos... Sempre da mesma maneira. Eu deitada na cama, claro. Os lençóis de flanela que ela usava religiosamente de Outubro a Abril. E ela em pé, numa velocidade alucinante a percorrer o quarto de um lado ao outro. Tardes inteiras. Era sempre a A. que seleccionava a música. Eu pouco conhecia e gostava do que ela me mostrava. A minha DJ preferida. Nunca comprávamos os mesmos cds nem os mesmos livros para podermos partilhar o que tínhamos. E usávamos um esquema fantástico em que líamos livros diferentes à vez. Se uma gostasse de um livro, emprestava-o à outra. Se não gostasse, contava a história ao pormenor, normalmente para nos rirmos com isso. Era de tal forma, que ainda hoje há livros que eu não sei se li ou se foi ela que mos contou.

08 agosto 2011

Perco-me em pormenores porque a realidade para mim não tem interesse nenhum. Costuma-me ter uma visão global do mundo ou da política e por todo o lado só reparo em detalhes que não interessam para nada nem a ninguém. Consigo estar uma hora a falar com alguém e não reconhecer mais tarde a sua cara, lembrar-me do nome ou do local onde trabalha, mas sei que essa pessoa tinha um pequeno tique com o pé ou com a mão. É nesses pormenores que as pessoas são mais bonitas. Em tudo o resto e tudo o resto me parece insuportável.

05 agosto 2011

Um ano :)

The Blues Brothers, de John Landis (1980). O filme recebeu na altura das piores críticas de sempre. Não sei porquê... Eu acho-o hilariante! Para o P, claro.

14 julho 2011

Lisboa, se não existisses tinhas de ser inventada. O que é que eu faria sem ti nestes dias de Verão, quando te tornas ainda mais deliciosa? De facto, é um privilégio viver na cidade pela qual estamos apaixonados.
Enquanto os tugas se dirigem em magote para o Meco, eu transformo o meu carro a caminho do hospital num pequenino Incógnito.
EU: Foste tu que fizeste este desenho? ELA: Sim. EU: Que sol tão bonito! ELA: Não é um sol, tia! EU: Ah, não? Então o que é que é? ELA: É um círculo. EU: Ah.
Yo era uno de esos que nunca iban a ninguna parte sin un termómetro, una bolsa de agua caliente, un paraguas y un paracaídas; Si pudiera volver a vivir, viajaria más liviano. Instantes, Jorge Luís Borges

Ontem à noite foi assim...

11 julho 2011

Once in a house on a hill, a boy got angry...

05 julho 2011

Vou ter de me recompor até quinta. Felicidade artificial. Sorriso seguro. Calças pretas de executiva. Tudo teatro. Sou uma miúda, ninguém consegue ver isso? Uma miúda com idade a mais, uma criança velha. Outras pessoas invejam a minha sorte, sobretudo miúdos de 17, 18 anos, a tentarem entrar na faculdade. Mas eu nunca quis estar onde estou agora e por mais voltas que dê, não consigo perceber quando nem porquê tomei as decisões que me levaram inevitavelmente a este preciso momento. Só sei porque é que fiquei. Porque sou totalmente incapaz de saltar de um comboio em movimento. E a linha onde estou não tem estações nem apeadeiros.
http://www.youtube.com/watch?v=KTOUg04E7tw
No Fiel Jardineiro, depois de fazerem amor, ele agradece-lhe. Ela pergunta porquê. For... this wonderful gift... Depois ela ri-se... I am very generous of me. Eu sou ele, sempre a agradecer por tudo e por nada, sempre comovida com tudo. Revisto-me de cinismo e de um sentido de humor negro e irónico no dia-a-dia, mas é só para não passar a vida a chorar.

02 julho 2011

Se estiverem aborrecidos e sem nada divertido para fazer, experimentem correr numa passadeira e fazer festas a um cão ao mesmo tempo. Nota: O cão não está na passadeira.

30 junho 2011

«Milímetros»

«(sensações de coisas mínimas) Como o presente é antiquíssimo, porque tudo, quando existiu foi presente, eu tenho para as coisas, porque pertencem ao presente, carinhos de antiquário, e fúrias de coleccionador precedido para quem me tira os meus erros sobre as coisas com plausíveis, e até verdadeiras, explicações científicas e baseadas. As várias posições que uma borboleta que voa ocupa sucessivamente no espaço são aos meus olhos maravilhados várias coisas que ficam no espaço visivelmente. Mas só as sensações mínimas, e de coisas pequeníssimas, é que eu vivo intensamente. Será pelo meu amor ao fútil que isto me acontece. Pode ser que seja pelo meu escrúpulo no detalhe. Mas creio mais - não o sei, estas são as coisas que eu nunca analiso - que é porque o mínimo, por não ter absolutamente importância nenhuma social ou prática, tem, pela mera ausência disso, uma independência absoluta de associações sujas com a realidade. O mínimo sabe-me a irreal. O inútil é belo porque é menos real que o útil, que se continua e prolonga, ao passo que o maravilhoso fútil, o glorioso infinitesimal fica onde está, não passa de ser o que é, vive liberto e independente. O inútil e o fútil abrem na nossa vida real intervalos de estética humilde. Quanto não me provoca na alma de sonhos e amorosas delícias a mera existência insignificante dum alfinete pregado numa fita! Triste de quem não sabe a importância que isso tem! (...) Benditos sejam os instantes, e os milímetros, e as sombras das pequenas coisas, ainda mais humildes do que elas! Os milímetros - que impressão de assombro e ousadia que a sua existência lado a lado e muito aproximada numa fita métrica me causa. Às vezes sofro e gozo com estas coisas. Tenho um orgulho tosco nisso. Sou uma placa fotográfica prolixamente impressionável. Todos os detalhes se me gravam desproporcionadamente a haver um todo. Só me ocupa de mim. O mundo exterior é-me sempre evidentemente sensação. Nunca me esqueço de que sinto.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego

28 junho 2011

Well, show me the way to next whiskey bar...

24 junho 2011

Top 5 de letras de músicas: 1) I've been thinking about you, so how can you sleep? (Thinking about you, Radiohead) 2) Be kind to me, or treat me mean, I'll make the most of it, I'm an extraordinary machine (Extraordinary Machine, Fiona Apple) 3) I feel your fists and I know it's out of love (Fistfull of Love, Antony and the Johnsons) 4) And you sip your Napoleon Brandy but you never get your lips wet, no you don't (Where Do You Go To (My Lovely)? Peter Sarstedt) 5) Nothing's changed, I still love you, only slightly less than I used to, my love (Stop me if you think you've heard this one before, The Smiths)
Top 3 das discussões dos meus pais: 1) Quem deixou cair a minha irmã ao chão quando a estavam a pesar na balança da cozinha ao quinto dia de vida? 2) De quem foi a culpa da minha mãe ter passado o 25 de Abril de 1974 em casa, enquanto o meu pai se empoleirava em cima de um tanque? 3) Quem acabou com o licor espectacular que um dia apareceu lá por casa?

19 junho 2011

14 junho 2011

O meu tio tem horror a aves, a não ser que lhe sejam servidas no prato já depenadas e assadas com batatinhas a murro. Por isso, quando foi preciso levar as perdizes do galinheiro para a charca e apesar de estas terem sido uma prenda que de um cliente e que obviamente ele aceitou sem hesitar, fui eu quem andou no galinheiro a agarrar os pássaros, estes a voarem contra as paredes, tantas as penas soltas no ar que eu mal via os bichos, quanto mais agarrá-los. Foi um triste espectáculo, mas lá consegui pôr as cinco perdizes no cesto e levá-las para o ar livre. No dia seguinte ao meu feito o meu tio foi à caça e o almoço foi perdiz.
O mundo visto por esta janela até nem fica mal, sobretudo à noite, só não dá é para tocar, como um postal ilustrado demasiado longe dos meus dedos. A ponte, a estação de comboios, o estuário do Tejo e lá ao fundo os moinhos, peças de um lego com o qual não se pode brincar. Estou deitada no chão de barriga para baixo, os livros por debaixo dos cotovelos e os olhos colados à janela enquanto penso nisto e eis que levo um pontapé no rabo e estamos de repente ao lado dos moinhos, que ainda agora estavam tão longe. Reparaste? Natalie Merchant, não Marchant, Merchant. Quero dizer-lhe como gosto destes bocadinhos, mas não consigo, da mesma forma que não consigo ir para a cama quando ele não está, horas a fio a olhar para uma televisão que podia nem lá estar. Amanhã mais um dia de estudo, mas sem ele, sem esses bocadinhos, sem os moinhos de repente enormes por cima de nós.

Recentemente vistos

Estômago, de Marcos Jorge (2007). Super cómico. Adorei.
Get low, de Aaron Schneider (2009). Dá ideia que no mundo do cinema se esquecem de vez em quando de Portugal, não é? Ou então é Portugal que se esquece de certos filmes. Bom, está agora no cinema, é levezinho mas engraçado e soube-me que nem ginjas no final de mais um dia de estudo.

08 junho 2011

E a do escuro, claro. É verdade, tenho medo do escuro. Não se passa mais nada, é estúpido: tenho medo do escuro. Para felicidade minha e da minha neurose, a minha casa nunca mergulha inteiramente na noite. O luar lá em cima entra pelas janelas a dentro e funciona como a luz de presença que cheirava a baunilha e que estava ao pé da minha cama, já que a minha irmã nunca teve medo do escuro, só eu. Quando pergunto à minha sobrinha se quer que eu deixe a luz da casa-de-banho acesa, ela responde-me que não, que teve uma ideia muito melhor, que podíamos deixar as luzes toooooodas acesas. Eu hesito mas acabo por consentir, ainda a pensar na conta da electricidade. Talvez quando ela crescer a luz do luar seja suficiente para afastar os monstros (we only come out at night...), mas para já deixamos as luzes tooooodas acesas, porque não? Podia não lhe fazer sempre a vontade, mas faço. Na natação, os miúdos todos a darem aos pés na horizontal e ela na vertical com uma bóia enfiada por debaixo de cada axila a dizer Tia, já viste, tão giro, parece mesmo que estou a andar!, esquece lá aprender a nadar. Agora os dois num quarto de hotel de luxo, o quarto mergulhado na noite e de novo aquele medo do escuro. Posso acender uma luz, pergunto. Mas porquê, o que é que se passa? Nada, é estúpido, tenho medo do escuro, só isso. Então ele vai e corre a cortina do quarto e a luz do luar entra pelo janela a dentro e cheira a baunilha.
A verdade é que eu concordo com o Jess. E por isso quando me perguntaram se tinha ciúmes ou se achava que podia ser "traída", nem percebi a pergunta. Porque pela primeira vez na vida não tenho dúvidas quanto ao amor de alguém por mim. E isso é o suficiente para apagar qualquer angústia da minha cabeça, menos a do exame.

02 junho 2011

Infidelidades

Jess: Marriages don't break up on account of infidelity. It's just a symptom that something else is wrong. Harry Burns: Oh really? Well, that "symptom" is fucking my wife.
When Harry Met Sally, Rob Reiner (1989)

Este vem com um dia de atraso!

Parabéns, querido amigo!

31 maio 2011

Finalmente :)

The Tree of Life, de Terrence Malick (2011), vencedor da Palma de Ouro no festival de Cannes deste ano. Este foi o realizador que ganhou lugar no meu coração pelo filme The Thin Red Line (1998). Gostei. Gostei muito. Para além de tudo o resto, tão Terrence Malick like, a interpretação do miúdo é sensacional.

29 maio 2011

Recentemente lidos

Frankenstein, de Mary Shelley (1ª edição de 1818). Não obstante estar escrito no estilo romântico do século XIX, este livro cativou-me da primeira à última página. O próprio leitor acaba por ficar revoltado e moralmente indeciso sobre que partido tomar. Eu tomei o partido do monstro. Estava-se mesmo a ver.
Breakfast at Tiffany's, de Truman Capote (1ª edição de 1958). A última vez que me lembro de chorar assim a ler um livro foi numa das múltiplas leituras de As Confissões de Frei Abóbora, de José Mauro de Vasconcelos. Eu já conhecia bem o filme, mas agradou-me ler o livro, com um final mais realista do que o filme, mas de resto bastante semelhante a este. Uma vez li num sítio qualquer que havia neste mundo dois tipos de pessoas: as pessoas do primeiro grupo que viviam fascinadas com as pessoas do segundo grupo e as pessoas do segundo grupo que eram simplesmente fascinantes. Claro que Holly Golightly, mesmo sendo uma personagem de ficção, faz parte do segundo grupo.

17 maio 2011

Sexta-feira não me vou limitar a tirar o pijama. Vou rasgá-lo e desfazê-lo em bocadinhos. É que há três dias que não visto outra coisa.

10 maio 2011

A única coisa de que vou ter saudades do currículo

... vai ser do undo.
Ela está a dar-me na cabeça, de uma forma muito subtil e querida. Qualquer outra pessoa fá-lo-ia de forma agressiva, ela não. Não obstante, a minha auto-estima rasa o chão. Já não ouço nada, vou concordando, sei que ela tem razão. E ao mesmo tempo que penso que sou uma merda, fico ainda mais triste porque a desiludi e logo ela que é tão bonita, não sei porquê, é uma estupidez, mas é verdade, custa-me mais desiludir as pessoas bonitas. E ela é muito bonita.

05 maio 2011

Vá lá, não sou a única a achar ridiculamente não ético matar o Bin Laden...
http://www.economist.com/blogs/democracyinamerica/2011/05/targeted_killing

01 maio 2011

Estou à beira da piscina e todas as outras meninas saltam sem problemas para a água. É a nossa primeira aula de natação e elas saltam sem hesitar, apesar de nunca terem saltado antes. Saltam de cabeça como lhes foi pedido, pernas esticadas ao acaso para o ar. Não sabem fazê-lo, ninguém as ensinou, mas saltam à mesma. Só eu fico na borda da piscina. A cena repete-se uma, duas e três vezes. E eu fico sempre na borda da piscina. Mas porque é que não saltas, Sofia, pergunta-me a professora.
God knows how I adore life. When the wind turns on the shore, lies another day, I cannot ask for more. When the time bell blows my heart and I have scored a better day, well nobody made this war of mine. And the moments that I enjoy a place of love and mystery, I'll be there anytime. Oh, mysteries of love where war is no more, I'll be there anytime. When the time bell blows my heart and I have scored a better day, well nobody made this war of mine. And the moments that I enjoy, a place of love and mystery, I'll be there anytime. Mysteries of love where war is no more, I'll be there anytime. Mysteries, Beth Gibbons & Rustin Man

Para animar o meu estudo, decidi comprar...

... os dois álbuns mais deprimentes da história da música.

29 abril 2011

Já alguma vez fantasiaram com o vosso professor de ténis? Adivinhem quem é o meu professor de ténis? Exactamente, ao meu lado aqui na cama, mais sexy do que o próprio Chardy :)

28 abril 2011

Road to Nowhere, de Monte Hellman (2010). Gostei, sobretudo do ambiente. Quem vive apaixonado e apaixonado por cinema, não pode deixar de gostar deste filme. Continuo a achar que alguns pormenores não batem certo, mas isso também não é o mais importante e até pode servir para aumentar a confusão e ofuscar os limites entre o cinema e a realidade. De resto, surgiu em mim de novo a vontade de iniciar um ciclo de cinema dentro do cinema. Como já vi O Sétimo Selo (Ingmar Bergman, 1957), fica por ver The Lady Eve (Preston Sturges, 1941), El espíritu de la Colmena (Víctor Erice, 1973) e um que ainda tenho de identificar. Apesar de o filme estar cheio de referências a outros filmes, estes são os que eles vêem em conjunto na cama e por isso foram os eleitos para a próxima sexta-feira à noite.
O Álbum de Família, no Teatro Aberto. Não gostei muito, sobretudo por culpa da mãe que passa o tempo todo de olhos arregalados e com o olhar fixo, que mais parece ser cega e aquilo dos adultos fingirem ser crianças também é ligeiramente irritante. Mas gostei muito da avó e do pai. O tema é interessante e forte, e estou convencida que, com um pouco mais de esforço, tinha certamente dado uma peça aliciante.
Entrou na sala de aula, tirou a mochila dos ombros e disse: A partir deste momento, já não gosto de Guns. A partir deste momento gosto dos The Doors. Eu ri-me, claro, e desdenhei. Ah, sim, e o que vais fazer com a tua camisa de xadrez vermelha? Mas no fundo senti orgulho. O novo estilo ficava-lhe bem. E nesse dia vim para casa conhecer esta música.
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No dentista

Continuo a achar que deviam dar o prémio Nobel a quem inventou a lidocaína... E, se calhar, até, sei lá... beatificá-lo(a).

19 abril 2011

O quarto maior na casa da quinta dos meus avós nunca era utilizado, excepto pelas criadas que semanalmente limpavam meticulosamente os sofás, as estantes, os troféus do meu tio, as pratas, abriam as janelas e arejavam a sala, só para nessa própria manhã voltarem a fechar as portadas e cobrirem tudo com uns lençóis brancos que sempre me apavoraram. Durante anos esperou-se o dia em que viria alguém suficientemente importante para se poder usar a sala, durante anos o quarto foi limpo semanalmente e durante anos o Natal foi passado com a família acotovelada no quarto mais pequeno da casa, o quarto que tinha os sofás cremes baratos, comprados em Espanha, a braseira, a televisão e o tapete no canto roído pelo cão. Durante anos esperou-se, mas nunca ninguém apareceu com essa importância lá por casa e no dia em que veio o bispo, ficou-se pela capela, atrasado que estava para um casamento nas Caldas. Isto tudo até ao meu primo fazer 15 anos, dar o grito do Ipiranga, arrastar um colchão bem para o centro dos móveis, dos sofás, dos troféus e das pratas e dizer: Recuso-me a continuar a dormir com as minhas primas.
Toda a gente sabe que a função mais importante dos pés não é carregar com o corpo o dia todo. É resolver as discussões à noite na cama.

09 abril 2011

Tenho tanto potencial. Seria uma pessoa tão interessante, se não passasse a vida a dormir...
El último verano de la Boyita, de Julia Solomonoff (2009). Foi vencedor do Queer Lisboa de 2010. Eu achei lindo e adorei. E não chorei :)

E por isso hoje fomos à piscina

A minha sobrinha veio cá passar a noite. Estamos já as duas na caminha, eu na minha e ela na dela, que agora já não cabe na tenda, quando eu lhe pergunto: Então e a natação, correu bem? ELA: Sim. EU: Foste com a mamã? ELA: Sim. EU: E estavam lá outros meninos? ELA: Sim. EU: E as outras mamãs também vão com os outros meninos? ELA: Sim. Mas sabes uma coisa? Também vão tias.

Em altura de crise...

... a Sofia baixa drasticamente a sua produtividade durante três meses para estudar. Vou propor ao FMI o corte do meu exame.

Tentativa falhada

Na falta de colegas com quem falar sobre temas interessantes, tenta-se falar com os doentes. EU: Nina, sabes que havia uma menina com o teu nome e que cantava muito bem? ELA: Não. EU: E tu, gostas de cantar? ELA: Não.

No carro com o meu melhor amigo

ELE: Meu Deus, que stress... EU: Mas, então, porquê? Ele não voltou a ligar? ELE: Não, a tua condução mesmo.

Hoje tive um pesadelo horrível

Sonhei que o gato tinha voltado.

06 abril 2011

E depois foi assim...

No barco sem ninguém, anónimo e vazio, ficámos nós os dois, parados, de mão dada... Como podem só dois governar um navio? Melhor é desistir e não fazermos nada! Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos, tornamo-nos reais, e de madeira, à proa... Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos... Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa... Aparentes senhores de um barco abandonado, nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem... Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado, se justifica, enflora, a secreta viagem! Agora sei que és tu quem me fora indicada. O resto passa, passa... alheio aos meus sentidos. — Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada, a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!
David Mourão-Ferreira, A Secreta Viagem

04 abril 2011

Well, here's your lucky day

Aos 26 anos perdi-me. Aos 31 encontrei-me. Demorei cinco anos para chegar a casa. Mas valeu a pena :)
Quando a criança era criança, não suportava a frustração. Agora não suporta a frustração, mas tem de o fazer à mesma e ninguém a consola nem lhe dá os parabéns por isso.

02 abril 2011

O terceiro motivo pelo qual o filme Camino me comoveu foi porque me fez lembrar da primeira vez que estive apaixonada. Comoveu-me especialmente a história do cabelo, porque me lembro de ele comentar que o meu cabelo estava bonito e de isso me ter feito feliz durante semanas. Que interessava que ele fosse tendo namoradas e que eu nunca fosse uma delas, se uma vez ele perguntou por mim quando fiquei doente? E mesmo que ele um dia não me falasse e isso me deixasse triste, nessa noite em casa, os meus pais e a minha irmã faziam com que ficasse tudo bem. Este conceito de casa transmitia-me uma segurança que eu não voltei a sentir em lado nenhum, nem mesmo agora em casa dos meus pais. Depois à noite sonhava com ele. Se alguma vez me tivesse pedido em namoro, nem tinha sabido o que fazer com isso. Não obstante, toda eu transbordava de uma felicidade que até então desconhecera. Esperei uma carta que nunca veio e alimentei secretamente expectativas e sonhos que na verdade não precisava de concretizar. Eu, o pensamento dele e as nossas brincadeiras no recreio eram o suficiente para me sentir a pessoa mais feliz do mundo.

01 abril 2011

Camino, de Javier Fesser (2008). À beira de fazer 31 anos, este filme atingiu-me como uma bomba. Isto por vários motivos. O primeiro e óbvio é porque incide sobre uma história horrível e algo que eu vejo com infeliz frequência no meu dia-a-dia. Todavia, nenhuma das crianças que eu vejo morrer vai alguma ver estar em processo de beatificação, o que mostra que, até para se ser santo, é preciso ter sorte. Mas todos sofrem por igual e, com ou sem fé, a maior parte porta-se de forma assustadoramente corajosa. Nunca tive relação nenhuma com a Opus Dei, uma filha de um vizinho que desapareceu aos 18 anos, os pais a chorarem pelo prédio, no elevador, nas escadas, mas foi só. Nem posso dizer que os meus pais sejam uns crentes veementes. A minha mãe andou num colégio interno de freiras dos 7 aos 17, em que a casa só ia nas férias, eram as freiras a vasculhar as gavetas e ela a tentar esconder o diário, um pequeno molho de folhas só isso, sempre sem sucesso, mais uma vez os erros rasurados, os sonhos criticados e depois chegar a casa e o irmão a dizer para porem a toalha especial na mesa, porque tinham visitas. Já se vê que o amor da minha mãe pela Igreja nunca podia ter ido longe. O meu pai, apesar da grande fé que tem, sem o saber ou sem o admitir, é demasiado intelectual para se conseguir encaixar todos os domingos num banco de uma igreja a ouvir passivamente um padre que sabe menos do que ele. Por isso, durante toda a minha infância e adolescência, ter fé e ser praticante era uma coisa muito minha e muito característica do mundo fantasioso em que vivi até inexplicavelmente tarde. A verdade é que, abandonada a fé, fiquei com dificuldade em encaixar o sofrimento. Não o sofrimento relacionado com a não satisfação dos degraus da base da pirâmide de Maslow, mas aquele sofrimento banal ligado ao topo da pirâmide e que vem em menor ou maior quantidade conforme os dias, as semanas ou os anos. O que me leva ao segundo motivo pelo qual a história me tocou. No filme a mãe diz-lhe qualquer coisa deste género: esta é pelos bebés não baptizados e esta pelos pecadores. A nós faz-nos impressão este sofrimento comido à colher, as pedras no sapato, mas a verdade é que a Igreja, mais do que à morte, veio dar um significado ao sofrimento, que, com ou sem Igreja, com ou sem Opus Dei, com ou sem fome, com ou sem pedras no sapato, é sempre inevitável.

Olhem quem chegou na caixa de correio hoje!

Aqui fica um agradecimento público ao meu melhor amigo por há alguns anos me ter apresentado o músico e ao meu namorado por me ter aturado a cantar isto dia e noite nos últimos 10 dias. Podemos agora finalmente ouvir o original. Em modo repeat :)
The Kids Are All Right, de Lisa Cholodenko (2010). Gosto destes actores todos, mas não gostei do filme. Achei-o aborrecido.
Shi, de Lee Chang-dong (2010). Filme sul coreano sobre alguém que procura a beleza nas coisas em busca de um poema e acaba por encontrar apenas sofrimento, daí resultando a poesia mais bonita de todas. Não há dúvida que é um filme asiático, em que várias situações são culturalmente tão diferentes da nossa realidade que fica difícil de digerir. Gostei.
The Fighter, de David Russel (2010). Este é um tema do qual nunca me canso: o boxing... Todavia, o filme fala também de relações familiares. Quem mais adoramos, odiamos e aturamos neste mundo e que sempre, mas sempre, estão cá para nos aturar, odiar e amar a nós. Adicionalmente, não deixa de surpreender o Christian Bale ser capaz de fazer tudo no écran. Suponho que já podíamos ter desconfiado disso a partir do momento em que criaram uma categoria só para ele nos óscares, na altura do Empire of the Sun do Spielberg (1987). Para quem não o viu nessa altura, como o miúdo mais espectacular da história do cinema americano que foi (apesar de ele próprio ser do País de Gales), também pode ter reparado nele mais tarde. Desde o American Psycho ao Batman, passando pelo Little Women, nada pára este homem. É sempre um prazer reencontrá-lo no éran. Muito bom.
True Grit, dos irmãos Coen (2010). Há já um tempo que andava desiludida com estes dois, mas desta vez gostei. A miúda está demais. Mana, quando tiveres tempo, entre biberons e fraldas, diz-me se ela não te faz lembrar a actriz da série Anne of Green Gables :) Mais uma vez, fica por ver o original de 1969 de Henry Hathaway, com o John Wayne, que o nosso avô viu de certeza absoluta.
Potiche, último filme de François Ozon (2010). Gostei muito. Fez-me lembrar o 8 Femmes :)

Ultrapassar as 2.000 rotações?!

Como se isso fosse possível na minha vida...

24 março 2011

Gasóleo a 1.439?!

Nunca mais ultrapasso as 2.000 rotações...
Na nossa família não havia médicos. Mas havia um engenheiro agrónomo. Por algum motivo, a minha família nunca sentiu necessidade em distinguir uma coisa da outra. Por isso, durante anos a fio, todos nós seguimos religiosamente os conselhos médicos de um especialista em fruticultura. Um dos conselhos de que me lembro melhor tinha a ver com a água. A água do poço tinha todos os minerais que uma criança precisava de beber para crescer de forma saudável e que um velhote necessitava de beber para poder cair sem partir o colo do fémur. E nós, porque não, bebíamos a água do poço. Como não morremos de um surto de febre tifóide, acabámos por crescer fortes e saudáveis e nunca os nossos avós partiram as pernas. Mas sei que foi nessa altura, nessa mesma altura, que me tornei fã incondicionável da água do Luso.

10 março 2011

Esmagador, colocar recordações lado a lado. Não quero colocar nenhuma recordação amarga ao lado destas últimas tão boas. Mas hei de colocar, já sei. E vamos coleccioná-las, recordações boas e más, lado a lado, e esperar que as boas ultrapassem as más ou pelo menos as justifiquem. O amor é fodido. Mas é amor.
Olhou para mim com ar trocista e perguntou: Como é princesinha, eu sei que o filme é bonito, mas tanta lágrima, tanta lágrima... por causa de um gago? É verdade, ando mais sensível ultimamente e identifiquei-me estupidamente com o rei, apesar de não ser rainha, nem princesa e princesinha só nos olhos dele mesmo. A única semelhança entre nós e se calhar mais um milhão de pessoas, é ambos insistirmos em ultrapassar o que nos achamos incapazes de fazer. Vá lá, no caso dele correu bem... Enfim... Para além, disso gostei muito dos cenários. O meu amigo, que é psiquiatra, chamou a atenção para a relação do rei com o psicoterapeuta. Muito bonita, também.
Há crianças que nunca se portam bem. Também há crianças que se portam sempre bem e só porque sim. E depois há crianças que se portam bem porque senão vem o lobo mau e é um sarilho... A minha irmã e eu pertencíamos àquele grupo raro de crianças que se portavam bem porque senão vinha aí o primeiro ministro e depois como é que era? Na verdade, a situação hipotética era colocada de uma forma um pouco diferente e ocorria sobretudo à hora de jantar ou em qualquer altura que requeresse a prática de boas regras de etiqueta. Era mais do género: vocês têm de se portar bem, porque se um dia vem cá o primeiro ministro ou se um dia têm de ir a casa do primeiro ministro, então depois como é que é? Para reforçar a sua teoria, o meu pai dava-nos o exemplo da Manuela Eanes que convidada pela rainha de Inglaterra a ir à ópera, se lembrou de limpar o assento de veludo antes de se sentar. Nós ríamos, mas aquela ideia acabava por fazer efeito. Quem é que queria ser a chacota da nação, no dia em que fôssemos convidadas para ir à ópera pela rainha de Inglaterra? E por isso era fechar a boca enquanto comíamos, não cantar à mesa e sentar com as pernas e as costas direitas, mantendo os cotovelos em baixo onde toda a gente sabe que eles pertencem.
Em conversa hoje no trabalho mencionei que gostaria de fazer teatro. Perguntaram-me então porque é que eu não me juntava ao grupo de canto do hospital...

28 fevereiro 2011

Vivemos nas memórias uns dos outros e também das coisas e esquecemo-nos que nunca fomos assim tão giros, nem simpáticos, nem interessantes. O meu avô a corrigir-me os poemas com caneta de feltro vermelho, directamente no meu livro de apontamentos e as minhas lágrimas a encherem-me os olhos e só agora me lembro disto, situação tão impensável, o meu avô sempre tão bondoso, tão compreensivo, de perna esticada cruzada na varanda da casa da praia. Ele na varanda e eu aqui. Não sei porque me lembro disto agora. Eu aqui e é mais uma noite de vidro azul e elaboração de um currículo infindável, os últimos cinco anos a discorrerem à frente dos meus olhos em folhas A4 cheias de tabelas e um texto aborrecido de morte. Queria escrever sobre a minha aprendizagem pessoal no campo da música, do amor, dos amigos, dos países que conheci, mas em vez disso são tabelas e números e tudo aquilo que fiz enquanto pensava em fazer outras coisas. Fomos à Índia quando acabámos o curso e foi a viagem da minha vida e nunca me lembro daquela diarreia, os carris e a terra a olharem para mim através do buraco, tudo muito rápido e e eu naquela posição ridícula de tripé de duas pernas e a bater contra as paredes da casa-de-banho do comboio. Índia, a viagem da minha vida, mas nunca me lembro do meu ataque de pânico, quando vi pela primeira vez o fog a amanhecer em Delhi, cobrindo tudo e todos de uma amarelo espesso impenetrável. Foi a primeira vez que senti medo a sério na vida, se tirar aquela vez que comi uma embalagem inteira de comprimidos de flúor, aquilo sabia bem e os meus pais diziam que fazia bem, mas de repente ia morrer só porque tinha comido o que sabia bem e fazia bem. Demorei muito tempo a perceber muita coisa, mas também não escrevo isso no currículo. Digo que aprendi tudo de uma forma gradual e progressiva. Digo que ganhei autonomia, quando nem sei o que isso é, eu que sempre fui tão dependente, daqui a 40 anos ainda estarei a chamar pelo meu chefe e a perguntar-lhe quando é que afinal se devem misturar as claras em castelo. E ele, já do lado de lá, há de vir de batedeira na mão, pronto para acabar de fazer o bolo. Penso na primária, e como era bom subir às árvores, e como assim que tiver oportunidade o farei outra vez, definitivamente quando for ao Jardim do Campo Grande vou subir a uma árvore, nem que seja só uma e sentir-me só mais uma vez no topo do mundo, ainda que seja só a 30 centímetros do chão, que sempre tive vertigens. Mas a verdade é que o topo do mundo é agora. Este currículo de merda e saber que amanhã e depois de amanhã e todos os outros dias a seguir ele vai estar comigo e os meus sobrinhos vão crescer e nós vamos lá estar também com eles, todos a vivermos nas memórias uns dos outros muito mais giros, simpáticos e interessantes do que alguma vez fomos.

19 fevereiro 2011

EU: Já viste, pequenina, que lindo camião? ELA: Não é um camião, tia! É uma betoneira!

17 fevereiro 2011

Dado o meu infeliz infortúnio com animais de estimação, decidi investir no reino vegetal...