Há crianças que nunca se portam bem. Também há crianças que se portam sempre bem e só porque sim. E depois há crianças que se portam bem porque senão vem o lobo mau e é um sarilho... A minha irmã e eu pertencíamos àquele grupo raro de crianças que se portavam bem porque senão vinha aí o primeiro ministro e depois como é que era? Na verdade, a situação hipotética era colocada de uma forma um pouco diferente e ocorria sobretudo à hora de jantar ou em qualquer altura que requeresse a prática de boas regras de etiqueta. Era mais do género: vocês têm de se portar bem, porque se um dia vem cá o primeiro ministro ou se um dia têm de ir a casa do primeiro ministro, então depois como é que é? Para reforçar a sua teoria, o meu pai dava-nos o exemplo da Manuela Eanes que convidada pela rainha de Inglaterra a ir à ópera, se lembrou de limpar o assento de veludo antes de se sentar. Nós ríamos, mas aquela ideia acabava por fazer efeito. Quem é que queria ser a chacota da nação, no dia em que fôssemos convidadas para ir à ópera pela rainha de Inglaterra? E por isso era fechar a boca enquanto comíamos, não cantar à mesa e sentar com as pernas e as costas direitas, mantendo os cotovelos em baixo onde toda a gente sabe que eles pertencem.
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