29 julho 2022

Numa cena no filme Columbus (Kogonada, 2017), a Casey fala sobre um edifício. A arquitectura tornou-se, recentemente, uma grande paixão de Casey. O Jin não parece interessado e interrompe-a, acenando lentamente a mão à frente dela.


Casey: Sorry, what?

Jin: What are you doing? Who are you?

Casey: What?

Jin: Who are you?


Riem-se os dois.


Casey: God, shut up. I’m just trying to tell you about this building.

Jin: Ok, stop with the tour guide mode for a second.

Casey: I’m not in a mode.

Jin: You said this is one of your favourite buildings.

Casey: It is.

Jin: Why?

Casey: It’s one of the first modernists banks in the United States.

Jin: Not. It can’t be it.

Jin: Do you like this building intellectually, because of all the facts?

Casey: No. I’m also moved by it.

Jin: Yes. Yes. Tell me about that. What moves you? 

Casey: Thought you hated architecture.

Jin: Hum. I do. But I’m interested in what moves you, particularly about a building.


Segue-se uma cena maravilhosa, durante o qual a Casey, em silêncio para o espectador, parece, pela primeira vez, pensar e expor os motivos que a levam a gostar tanto daquele edifício e, ao fazê-lo, também ela se comove. E nós também, mesmo nem tendo ouvido a explicação. Ela chegar a esse ponto de sinceridade com ela própria é, por si, comovente. Muito comovente.

15 julho 2022

Revi dois filmes do Fellini: La Dolce Vita (1960) e 8 1/2 (1963).

Mais uma vez, estes foram filmes que eu tinha visto quando estava na faculdade, em casa, sozinha, desbravando a cinemateca que os meus pais, diligentemente, ao longo de anos, haviam gravado a partir da televisão em cassetes VHS.

Por volta dos 10 anos, eu própria tinha ordenado, enumerado e registado todos esses filmes num caderno de capa vermelha e agora entretinha-me a vê-los.

                            O que será feito desse meu querido caderno de capa vermelha?

A escolha era eclética e se calhar incompleta, mas fascinante para mim e ainda hoje estou grata aos meus pais por me terem facultado estes filmes. Woody Allen, Ingmar Bergman, Carl Theodor Dreyer, Rossellini, Antonioni, Fellini, Hitchcock, filmes antigos portugueses, Godard, talvez outros filmes franceses, mas não sei porquê, não me lembro de mais. Ou não me marcaram, ou não vi. Tenho constatado, com humildade, que nem sempre me lembro dos acontecimentos como eles aconteceram, nem das coisas como elas eram.

                           Como quando me esqueci que tinha lido o Breakfast at Tifannys.

Revi estes dois filmes do Fellini e, mais uma vez, adorei vê-los, vivê-los. E, tal como já tinha acontecido com os filmes do Antonioni, tal como já tinha acontecido com o Paris Texas do Wim Wenders e tal como aconteceu mais tarde com os filmes do Almodóvar e do Nanni Moretti, sobre os quais ainda irei escrever aqui, desta vez os filmes do Fellini comoveram-me de uma maneira que teria sido impossível quando estava na faculdade. A angústia e a beleza de sermos imperfeitos, filmada de forma tão bela. Assim comovida, andei durante dias com cabeça e coração imersos nos filmes. Foi maravilhoso.