02 dezembro 2014

Falta de sono dá nisto...

Realmente na internet podemos escrever o queremos que não temos feedback dos disparates que escrevemos... Em relação ao realizador do filme Bekas... Queria dizer que emigrou com a família para a Suécia durante a guerra do Iraque... Obviamente não emigrou do Curdistão para o Iraque...

29 outubro 2014

Recentemente vistos... Dez minutos de cada vez!

Bekas, de Karzen Kader (2012). Foi inicialmente uma curta-metragem. O realizador nasceu no Curdistão e emigrou durante a infância com a família para o Iraque. Gostei muito mesmo.
Ilo Ilo, de Anthony Chan, natural de Singapura (2013). Gostei bastante.
Noah, de Darren Aronofsky (2014). Gostei de algumas partes mas não é o meu tipo de filme e de forma geral achei-o aborrecido.

03 outubro 2014

Saber perdoar...

'I was a little boy and somebody made a shitty latch. That's what I think. That's what I think about the whole thing, OK? And I'm not gonna take those drugs anymore, because they have left me completely fucking numb. I have felt so fucking numb to everything I have experienced in my life, OK? And for that... for that I'm here to forgive you.’ in Garden State de Zach Braff (2004)
Nem acredito que te encontrei...

21 setembro 2014

Mas contento-me com uma imensidão de beijinhos e abraços

Às vezes tenho tanta vontade de me fundir com o meu filho que só me apetece engoli-lo.

10 setembro 2014

Com a quantidade de animais que mostramos às crianças, não admira que todos cresçamos com o sonho de trabalhar para a National Geographic...

04 setembro 2014

Após um mês ausente, a minha empregada regressou. Estou quase a chorar de felicidade.

07 agosto 2014

Três meses

Dizem que os bebés têm dificuldade, nos primeiros meses, em perceber que já não fazem parte da mãe. Não sei como percepcionou o nosso filho até agora o seu corpo e o meu, a sua existência e a minha. Eu sei que tive dificuldade em perceber que ele já não fazia parte de mim. Do ponto de vista psicológico, claro, mas também, e até de forma pertubadoramente concreta, do ponto de vista físico. Ele no meu colo e eu com dificuldade em perceber se a barriga a fazer barulho era a dele - ou seria a minha? O suor entre nós - a quem pertenceu? A dor dele no primeiro mês foi também a minha. A alegria dele, a minha. Uma ilha paradisíaca? Não, provavelmente usaria outra metáfora. Os salteadores da arca perdida. Uma aventura extraordinária. Tumultuoso, entusiasmante, caótico. Avassalador. Emoções muito intensas. Muito variadas. Muitas dúvidas. Um amor por ele e por ti que rebenta neste meu coração pequeno, tão pouco habituado a amar... até agora. Tudo diferente. Tudo novo. Algumas lágrimas. Muitas de felicidade. Muitas de cansaço. Saudades de ser mais egoísta. Correção: saudades de poder ser mais egoísta. Precisar do meu espaço. Já não saber como entretê-lo. Tantas saudades do seu calor e do seu peso junto ao meu peito ao final de duas horas no colo do pai aos sábados de manhã. O verdadeiro medo da morte. Não poder morrer sem antes o ver crescido, ele próprio com filhos e netos. E, por fim, ou no início de tudo, a sensação de ter feito algo verdadeiramente mágico. Contigo. Sem varinha. Só com amor. Feliz primeiros três meses de vida, meu amor.

25 julho 2014

E de madrugada?

Laranja de manhã é de ouro, à tarde prata, à noite mata. Obrigada, P. :)

01 junho 2014

'Não percebo', diz-me ela 'Porque é que há de ser culpa sua?' Olho para a minha colega de quarto. Bolas, penso, Há pessoas mesmo saudáveis... Como e quando é que me fui tornar numa adulta tão neurótica? Mesmo assim, tento justificar-me 'Ora, porque nem sempre é fácil dizer se é por fome, por cólicas, por frio, por calor, por fralda suja ou por aborrecimento que ele chora e quando penso que é por um motivo e alguém sugere ser por outro (tipicamente fome!) fico com medo de não estar a tomar conta dele da melhor maneira.' Faço uma pausa. Nada. 'Quatro horas de choro dá para pensar em muita coisa' acrescento já que a conversa anterior não parece impressioná-la. A minha colega de quarto encolhe os ombros. 'Se acha que não é fome é porque não é fome' remata e fico sem argumentos. 'Primeiro filho' acabo por dizer com um sorriso amarelo e saio do quarto com a tralha toda nas mãos. Fomos transferidos para um quarto individual, suponho que na sequência da minha crise de choro de ontem. 'Está a precisar de descansar, oh mãe' diz-me a enfermeira, este 'oh, mãe' sou eu, já percebi mas demorei o meu tempo e assim ao fim de três dias passamos de um quarto partilhado para um quarto individual, o M. passa de uma cama grande para um berço pequeno e eu de um cadeirão para uma cama. Temos sorte. Como é fim-de-semana e por isso não há amálgamas de alunos, internos, médicos, enfermeiros e auxiliares a encher os corredores, o serviço fica calmo e eu retomo a minha marcha lenta 1,2,3, vira, canta, embala, 1,2,3, vira, canta, embala, passo para o lado, passo para o lado, passo para trás, repete a sequência. Enquanto estou nisto ele vai acalmando e, olhando o Tejo, vem-me à cabeça entre muitas, mais uma recordação. Quando estive em Londres, a minha mãe foi visitar-me. Ficou a dormir no meu quarto que não era maior do que uma despensa grande mas que tinha uma vista magnífica sobre o Tamisa, o Big Ben e o London Eye. Arranjei um colchão insuflável que estendi no chão entre a cama e a parede e onde a minha mãe dormiu mesmo depois de eu ter insistido para que ela dormisse na minha cama. Lembro-me de num desses dias acordar tardíssimo, já depois da hora do almoço e ver a minha mãe sentada no colchão a ler com o ar mais tranquilo do mundo. Pedi desculpa envergonhada quando me apercebi das horas mas a minha mãe acalmou-me dizendo que lhe tinha sabido muito bem estar ali a ler, como se tivesse sido necessário uma viagem a Londres e um colchão de plástico num quarto atarracado para o fazer. 'Era capaz de passar o resto da vida com ele ao colo' dizes-me. Eu sei que não consigo... Por isso hoje adormeço ainda o sol se despede lá fora e tu lhe falas dos passeios de bicicleta, dos livros e das telas. Durmo angustiada sonhando que não consigo acordar e de repente já dei de mamar duas vezes, já estou a embalá-lo há umas horas e lá fora já é de madrugada. Vem uma enfermeira saber porque é que ele está a chorar mas desta vez não me diz que é fome, porque também elas o começam a conhecer bem. Canto-lhe a Canção de Embalar porque fala da estrela d'alva que não tarda estará aí. E faço um esforço para cantar uma oitava acima porque li que os bebés gostam de vozes agudas mas a minha voz não é aguda e a melodia fica irregular, como acontece com os adolescentes que estão a mudar a voz. Nada disto parece incomodá-lo e ele acaba por adormecer e a enfermeira não volta a aparecer. Não quero estar aqui. Não quero voltar a percorrer os corredores da urgência com ele a gemer ao meu colo. Não quero que ele volte a adoecer. Não quero que ele seja picado vezes sem conta. Não quero que o meu colo seja  insuficiente para o tratar. Penso outra vez na minha mãe, sentada tranquilamente a ler, à espera que eu acorde. Penso em mim própria... um mês de cama, o arco-íris que surgia a meio da tarde, os aviões a descolarem, os livros todos que li para passar o tempo, para pensar o mínimo possível. Penso em ti durante um mês a trabalhar até tão tarde e a deixar feito o pequeno-almoço, o almoço e o jantar, a arrumar a casa, a leres-me em voz alta. Penso na quantidade de noites sem dormir, a barriga enorme a dificultar-me a respiração e os movimentos. Penso no trabalho de parto, a minha médica a suar, apoiando os pés na marquesa, a anestesia que não funcionava, a dor dilacerante, toda a minha força que não era suficiente. Penso no horário quase constante da amamentação e nas cólicas e, por fim, penso nestes 10 dias no hospital, a angústia inicial, os corredores da urgência, o gemido, as picadas, o cadeirão, a t-shirt suada  com vomitado, as calças escorregando-me da cintura agora sem barriga. Um exercício de paciência e uma lição de amor desde o primeiro instante em que te concebemos. Pouso-o finalmente no berço. Dorme tranquilamente.

20 maio 2014

O nosso filho

Nesta altura do ano vê-se o nascer do sol na nossa sala iluminando de vermelho o rio, a ponte e os moinhos e o pôr do sol nos quartos pintando os aviões. 'A luz de madrugada é a melhor para fotografar' dizes-me por entre as paredes do canyon, 300 metros de altura, o rio a lamber as nossas cinturas e a curvar 50 metros adiante. O fotógrafo na curva do rio com o seu tripé, ambos dentro de água e pacientemente à espera. Estamos demasiado cansados para tirar fotografias agora, mas ficamos junto à janela, tu com ele nos braços, e esperamos que o sol nasça. Falo-te na luz. Tu sorris. Nunca nada foi tão bonito e intenso como agora.

Estudo-o pormenorizadamente porque hoje está a ser um dia bom. O remoinho do lado direito da testa (tu dizes que não, mas eu sei que o risco de cabelo dele é à direita), o nariz arrebitado, os lábios iguais aos meus (não sabemos a quem sai mas a boca é a minha), as mãos e os pés enormes (vai ser alto como o pai), a pele branca, o cabelo, a sobrancelhas e as pestanas dourados. 'Bolas, fizeram um bebé mesmo bonito', dizem os nossos amigos, a família, os vizinhos. Nós concordamos com os olhos rasos de água.

No verão dos meus 15 anos convenci-me que não iria ter filhos. Bastou para me convencer um fio, uma agulha e a palma da minha mão. Uma brincadeira de adolescentes que levei demasiado a sério, talvez porque sempre fui secretamente supersticiosa, foi o que me sobrou do pensamento mágico da infância, paciência. O destino traçado por esta brincadeira ali mesmo na praia, lugar habitualmente de tanta diversão, foi algo de trágico para mim. Isto porque, desde que me lembro, que sempre quis ser mãe. Aos sete anos, respondia de forma pouco ambiciosa à questão 'O que queres ser quando fores grande?' com uma só palavra 'Mãe' e mais tarde, apesar de ter aprendido outras respostas, o meu desejo mantinha-se, sempre se manteve, queria ser mãe, não havia nada a fazer, tudo o resto era secundário, sempre foi. Quando entrei na segunda década de vida, contudo, nada se proporcionou no sentido de ter uma família e devagarinho fui aceitando o meu destino, traçado anos antes. Devagarinho fui construindo as minhas rotinas longe do mundo das crianças e desenhando a minha vida com outras aventuras. Por cada relação que não funcionava, eu culpava a praia e a agulha. Quando conheci o P. o destino desfez-se e deu origem a um sem fim de sonhos e possibilidades. Depois veio o aborto e, por instantes, voltei a sentir a agulha inerte sobre a minha mão. Depois as complicações com esta gravidez e de novo a agulha. No bloco de partos o anestesista 'Esta menina está cheia de febre, alguém lhe meça a temperatura por favor', em mim a recordação da colega que perdeu o filho por causa de uma sepsis neonatal e a agulha outra vez, a impossibilidade deste sonho ser para mim. Como as desgraças que só acontecem aos outros. Um sonho que só acontece aos outros.

Finalmente senti-o molhado e quente sobre mim, contigo ao meu lado, sempre ao meu lado. Cá fora, tão real como tu e eu. Como o nascer do sol, o rio, a ponte e os moinhos. A luz da manhã ideal para fotografar. Os pores de sol nostálgicos. Os aviões. O nosso filho.

18 abril 2014

Recentemente vistos...

The Attack, Ziad Doueiri (2012). O realizador foi entrevistado recentemente pelo José Fialho Gouveia no programa Bairro Alto na RTP2. Gostei muito da entrevista e adorei o filme!


The Grand Budapest Hotel (2014), Wes Anderson. Gostei, mas não tanto como dos anteriores dele.


Nymphomaniac: Vol. I e Vol. II, Lars von Trier (2013). Gostei de vários aspectos, mas de forma geral mantém-se fiel àquela visão pessimista que o Lars von Trier tem do mundo e das pessoas e com a qual pessoalmente não empatizo. Bolas, até o velhinho amoroso protagonizado pelo fantástico Stellan Skarsgard (que eu para sempre associarei ao Breaking the Waves de 1996) tinha de ser um parvo no final. Se havia necessidade...

30 março 2014

O M. há de vir ainda durante a Primavera, como já uma vez eu vim e também o pai, a tia, ambas as avós e todos os anos as flores. Lá fora está frio e chuva, mas as olaias pelas ruas parecem anunciar já a sua vinda. Ultimamente o calendário gira à volta dele. Os meus anos serão às 34 semanas e seis dias, a minha irmã vai estar em Nova Iorque das 36 até às 37 e o teu exame será às 37 semanas e três dias. Os primos estão felizes. A mais velha suspeita que talvez não seja um bebé que eu trago nesta barriga enorme, mas os mais novos não têm dificuldade em acreditar em bebés dentro da barriga, porque o pensamento mágico é ainda muito poderoso nesta idade e realmente não há forma nenhuma de viver esta experiência sem se acreditar em magia. Depois de um início inseguro, preparo agora a vinda dele, enquanto tu me olhas divertido. E não parece ser possível haver algo mais maravilhoso no mundo do que estes dias a três.

13 março 2014

Até agora associei os papo-secos à minha avó. Sempre disse papo-seco. E não foi por opção. A verdade é que só conheci as carcaças na faculdade. Até o cão da quinta da minha avó era o papo-seco, um cão pequeno, beje, com ar deslavado, um pouco gordinho e muito rafeiro. O papo-seco. Já morreu, claro... Os papo-secos pertenciam, como tantas outras coisas da minha infância, ao Verão. Durante as férias de Verão, eu queria desesperadamente comer fruta doce e suculenta, onde se encaixavam as uvas, o melão, a meloa e a melancia, fruta impossível de comer durante o resto do ano. Queria comer carapaus assados (assados pela minha avó, que os fazia muito bem), salada de tomate, massa de peixe e pão de S. Marcos. De todas estas iguarias de Verão, o pão de S. Marcos era a minha preferida. A minha avó comprava o pão logo de manhã na praça, mas fazia-nos esperar até à hora de almoço para o comermos. Pesado como era e dado o risco de congestão, patologia que eu nunca encontrei nos tratados de Medicina mas que todos sabemos como é querida aos portugueses, era impensável comer este pão antes de ir para a praia. Porque a minha avó sabia que no instante em que chegávamos à praia, corríamos em direcção ao mar. E era aqui que entravam os papo-secos. Pão leve, sem risco de provocar congestões em crianças impacientes por saltar para dentro de água, era o pão ideal para o pequeno-almoço. Não valia a pena discutir. Não é que eu não gostasse de papo-secos, só que sempre foram uma segunda escolha em detrimento de uma primeira espectacular. Recentemente em Armação de Pêra desapareceu o pão de S. Marcos, pelo menos aquele que se vendia na praça pela mesma senhora há 40 anos. Não sei porquê. Se calhar morreu, a senhora que vendia o pão ou o senhor que o fazia. Se calhar morreu o senhor que fazia o tranporte, porque se há pão que era certamente levado numa única carrinha de caixa aberta pela serra algarvia, era o pão de S. Marcos. Não sei. Provavelmente ninguém morreu e alguém foi à falência. Enfim… Acabou-se o pão de S. Marcos e eu voltei-me outra vez para os papo-secos. Na varanda com o P. e o M. ainda na barriga, a comermos papo-secos frescos da praça e a olharmos o mar mesmo em frente, é difícil imaginar pão mais tenro e saboroso e memória de papo-seco mais doce.

Obrigada, P :)

True Detective de Cary Fukunaga (2014). Adorei, adorei, adorei!

Band of Brothers de David Frankel entre outros (2001). Gostei muito.



07 março 2014

Por aqui vai assim...






Recentemente vistos...

Já que não posso fazer mais nada, vejo filmes… Bom, há pior!!

American Hustle de David O. Russell (2013). Não adorei, mas gostei.


Nebraska de Alexander Payne (2013). Está querido, gostei muito. Dos vários filmes deste realizador, não sei mesmo se não foi este o meu preferido.


Her de Spike Jonze (2013). Gostei de várias coisas no filme: das cores, da música, da interpretação do Joaquin Phoenix e do próprio personagem principal, que é delicioso. Gostei da relação deste com a ex-mulher, com a amiga e com o rapaz do escritório. Adorei as cartas de amor e identifiquei-me com várias questões colocadas durante o filme. Contudo, não consegui simpatizar com a relação com o sistema operativo, penso que por dois motivos principais: 1) é um sistema de software 2) a voz da Scarlett Johansson, que eu gosto muito porque é sexy e relaxante, é-me demasiado familiar; é-me impossível abstrair o suficiente para imaginá-la sem corpo como ela insiste em dizer durante o filme todo que não tem. Por este último motivo, o filme acabou por não funcionar para mim.


Gravity de Alfonso Cuarón. É difícil de acreditar que este tenha sido também o realizador de Y tu mamá también (2001) e de um dos filmes do Harry Potter. Um realizador eclético, portanto. Em relação ao Gravity, confesso que tenho dificuldade em comentar filmes cujo tema não me interessa. Talvez seja um bom filme, não sei. Não é por mal, a sério, mas mal consegui ver até ao fim.

August: Osage County de  John Wells (2013). Este seria mesmo o meu tipo de filme, mas acabou por também não funcionar muito bem para mim. Não sei porquê. Muitos anos a ver a Julia Roberts a fazer filmes tontos, talvez. O Ewan McGregor com apenas duas frases. Algum embirranço crónico em relação à Meryl Streep. Enfim, nada de racional.

Rincón de Darwin de Diego Fernández (2013). Está simpático, gostei. Gosto do estilo road movie e gostei dos personagens. E a narração do diário do Darwin, com aquele sotaque britânico a contrastar com tudo o resto, está demais.

The Broken Circle Breakdown de Felix van Groeningen (2012). Gostei bastante, mas é muito angustiante.





27 fevereiro 2014

Recentemente visto...

La Grande Bellezza, de Paolo Sorrentino (2013). Adorei. Faz lembrar o La dolce vita do Fellini (1960), o que parece ser um problema para os críticos portugueses - o Vasco Câmara classifica o filme com uma bola e o Luís Miguel Oliveira com uma estrela e ambos parecem furiosos com o filme, como se este os tivesse ofendido pessoalmente só porque o tempo dos filmes de autor italianos dos anos 60, que se seguiram aos dos neo-realismo italiano, se tornaram intocáveis. Ora, eu sou uma grande fã desse período. Adoro o Rossellini, o Antonioni e o Fellini. Vi todos os filmes que consegui arranjar deles e gostei de todos. Mas, sinceramente, penso que há espaço no presente para mais uma vez filmar Roma e as crises de meia-idade dos seus habitantes materialistas, espaço para mais uma vez viajar por uma atmosfera onírica com animais, personagens exóticos, música e muitos excessos. Primeiro porque é bonito, depois porque continua actual. Dizer que o filme é horrível porque vai certamente buscar a sua inspiração ao Fellini, é como dizer que o Husbands and Wives do Woody Allen (1992) não tem qualquer valor porque faz lembrar o Cenas da Vida Conjugal do Bergman (1973), que o Woody Allen tanto admira. Os críticos internacionais parecem ter gostado - tem um metascore no IMDb de 86 e várias nomeações para diferentes prémios, mas os críticos portugueses sabem de certeza melhor. Os maiores.


De vez em quando vou espreitá-lo... :)

23 fevereiro 2014

21 de Dezembro de 2013

Quando falam da felicidade e benção que é estar grávida, devem estar a referir-se a dias como este. Quando se passa um mês de cama, ganha-se medo ao sonho. Durante anos vi doentes a quem diagnostiquei problemas graves e depois mandei para casa para reavaliar dali a um mês. Pensei muito neles enquanto estive deitada. Um mês para mim como médica nunca demorou mais do que um dia a passar. Mas como doente durou uma eternidade. Não foram as horas a olhar para o tecto e para as paredes. Nem tão pouco a solidão e a dependência. Teria suportado tudo isso bem, se não fosse o medo de o perder e a memória recente desse sentimento horrível de sonho desfeito ainda tão presente em mim. Depois chegou um dia em que estava tudo bem. E num abrir e fechar de olhos, porque o tempo agora acelerou outra vez, ele começou a crescer e a fazer-se sentir e surgiram dias como este.

Recentemente vistos...

Inside Llewyn Davis, Ethan e Joel Coen (2013). Depois de um mês de cama e dois de repouso em que o meu perímetro de circulação não ultrapassava as fronteiras cá do bairro, este filme marcou o meu regresso à sala de cinema, como espectadora, claro. Penso que não podia ter escolhido filme mais nostálgico, querido, urbano-depressivo e ao mesmo tempo cómico para este regresso. Adorei!


Da Vida das Marionetes (Aus dem Leben Marionetten), Igmar Bergman (1980). Está a decorrer um ciclo de cinema do Bergman no Nimas. A maior parte do filmes que vi dele, vi durante os meus tempos de faculdade em cassetes VHS que os meus pais gravavam a partir da televisão e que eu arrumava obsessivamente por ordem alfabética na prateleira de cima do armário. Este filme é um pouco diferente, filmado em alemão e sem a Liv Ullman. É também bastante sinistro, mas gostei. Além disso, gostei de rever o cinema em si, o próprio Nimas, onde já não ia há anos e que, por este andar, irá ser o próximo a fechar... Felizmente estava cheio.


12 Years a Slave, Steve McQueen (2013), o mesmo realizador de Hunger (2008) e Shame (2011). Adorei os três filmes e este em particular.



Dallas Buyers Club, Jean-Marc Vallée (2013). Gostei. Não conhecia este realizador. Eu sei que não é muito original dizer isto, mas realmente as interpretações do Mathew McConaughey e do Jared Leto são impressionantes e isto mesmo sem contar com a transformação física a que se sujeitaram.





26 janeiro 2014

E eu queria uma alma gémea, sempre quis, desde a primária, desde os tempos da Anne of Green Gables. Uma amiga igual a mim só com o cabelo diferente. Gostei muito de Frances Ha, de Noah Baumbach (2012).

Entrei com muita facilidade na faculdade e pouca convicção, o que fez com que durante anos sentisse que estava a roubar a vaga a alguém. Quando me sentia deslocada e diferente dos meus colegas, pensava que era por ter errado a profissão e, sobretudo, sentia-me culpada. Agora sei que, se tivesse entrado para letras, história, filosofia, física ou biologia, tudo hipóteses que considerei, teria tido sempre dificuldade em adaptar-me. As almas gémeas não abundam, sobretudo na vida adulta. 

02 janeiro 2014

O meu avô adorava contar histórias, sobretudo as que tinham tido lugar em Silves há mais de 90 anos e que ele próprio, as irmãs, os pais e os primos tinham protagonizado. A minha avó não gostava de ouvir estas histórias, ou porque já as ouvira demasiadas vezes ou porque ela própria não dava importância ao passado, nem ao seu próprio, quanto mais ao do marido. A vida da minha avó rodava em torno do aqui e agora: as novidades das vizinhas, o preço do peixe na praça, a hora de chegada a casa de cada um de nós. A minha avó ser tão prática era de grande utilidade para nós, netas, porque nos permitia viver o dia-a-dia daqueles meses de Julho de forma saudável e sem sobressaltos. Deitávamo-nos cedo, comíamos carapaus assados diariamente, íamos à praia às horas correctas e nunca nos esquecíamos do creme protector. Mas o dia-a-dia é um mundo cruel para os nostálgicos. Nas suas tarefas e preocupações diárias, a minha avó nunca incluía ouvir o meu avô e, quando calhava estar por perto quando ele se punha a recordar, interrompia-o sem cerimónia lembrando-o que aquelas memórias não tinham importância nenhuma. Nós contestávamos, porque adorávamos ouvi-lo. As histórias do meu avô evocavam uma pobreza que me era difícil de imaginar não só porque já tinha conhecido o meu avô com casa própria e dinheiro no banco mas também porque eu própria nunca passara por dificuldades. Tratavam de temas como a falta de sapatos, os favores e a avareza do padrinho da aldeia, as traquinices na escola e a gripe de 1918. Em relação à ultima, comentava Corria descalço pelas ruas empoeiradas e quando via o sinal numa das portas, voltava para casa e gritava 'Lá foi mais um! Desta vez a filha do senhor Armando!' E assim ia fazendo a contabilidade dos mortos. Eu imaginava Silves uma aldeia povoada de Varelas, os dias sempre quentes e o meu avô divertido e reguila, tal qual o Tom Sawyer do Rio Arade. É que, por mais trágicas que as histórias fossem, eram paradoxalmente divertidíssimas. Nós ríamo-nos sempre, mas o meu avô era quem ria mais, de tal forma que, se por acaso não se tivesse dado conta antes, era na altura das gargalhadas que a minha avó era atraída da cozinha para a sala e o vinha repreender e mandar calar. Mas ele continuava a rir em silêncio ainda com lágrimas nos olhos, genuinamente divertido, como o miúdo reguila que nunca deixou de ser.
No quintal dos meus avós os invernos eram sempre acompanhados por rosas. No dia 1 de Janeiro a minha mãe cortava duas ou três e colocava-as na mesa. A minha avó cozinhava bacalhau, alguns pedaços de borrego e perú e sopa de feijão. O tacho da sopa vinha para a mesa e a minha irmã e o meu pai repetiam sempre. O meu pai dizia A comida aqui não é boa, é óptima! O jarro de água ficava sobre o tampo fechado da estereofonia atrás de mim por cima de um pequeno napron branco. O meu tio trazia o champagne. A minha avó comentava O primeiro sítio para onde a bebida vai é para as pernas. O meu avô cortava o queijo e identificava os lugares de cada um com a sua letra elegante e oblíqua. Eu estranhava ver flores naquela altura do ano e atribuía a possibilidade de tal milagre ao amor imensurável que o meu avô tinha pelo seu jardim. Hoje sei que as rosas florescem em vários quintais, mesmo no Inverno, mesmo sem o amor do meu avô. Já não há flores na mesa, mas a família cresceu e as rosas continuam a nascer entre nós. São só os jardins que são outros.