02 janeiro 2014

No quintal dos meus avós os invernos eram sempre acompanhados por rosas. No dia 1 de Janeiro a minha mãe cortava duas ou três e colocava-as na mesa. A minha avó cozinhava bacalhau, alguns pedaços de borrego e perú e sopa de feijão. O tacho da sopa vinha para a mesa e a minha irmã e o meu pai repetiam sempre. O meu pai dizia A comida aqui não é boa, é óptima! O jarro de água ficava sobre o tampo fechado da estereofonia atrás de mim por cima de um pequeno napron branco. O meu tio trazia o champagne. A minha avó comentava O primeiro sítio para onde a bebida vai é para as pernas. O meu avô cortava o queijo e identificava os lugares de cada um com a sua letra elegante e oblíqua. Eu estranhava ver flores naquela altura do ano e atribuía a possibilidade de tal milagre ao amor imensurável que o meu avô tinha pelo seu jardim. Hoje sei que as rosas florescem em vários quintais, mesmo no Inverno, mesmo sem o amor do meu avô. Já não há flores na mesa, mas a família cresceu e as rosas continuam a nascer entre nós. São só os jardins que são outros.

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