Costumávamos ir as duas a pé depois das aulas para casa dos pais dela e passávamos tardes inteiras no quarto, sem fazer nada, só a ouvir música e a falar de livros. Tardes inteiras a ouvir Smiths, Duran Duran, Pulp, Divine Comedy, Josh Rouse, Radiohead, Joy Division, Belle & Sebastian, Tori Amos... Sempre da mesma maneira. Eu deitada na cama, claro. Os lençóis de flanela que ela usava religiosamente de Outubro a Abril. E ela em pé, numa velocidade alucinante a percorrer o quarto de um lado ao outro. Tardes inteiras. Era sempre a A. que seleccionava a música. Eu pouco conhecia e gostava do que ela me mostrava. A minha DJ preferida. Nunca comprávamos os mesmos cds nem os mesmos livros para podermos partilhar o que tínhamos. E usávamos um esquema fantástico em que líamos livros diferentes à vez. Se uma gostasse de um livro, emprestava-o à outra. Se não gostasse, contava a história ao pormenor, normalmente para nos rirmos com isso. Era de tal forma, que ainda hoje há livros que eu não sei se li ou se foi ela que mos contou.
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