E a do escuro, claro. É verdade, tenho medo do escuro. Não se passa mais nada, é estúpido: tenho medo do escuro. Para felicidade minha e da minha neurose, a minha casa nunca mergulha inteiramente na noite. O luar lá em cima entra pelas janelas a dentro e funciona como a luz de presença que cheirava a baunilha e que estava ao pé da minha cama, já que a minha irmã nunca teve medo do escuro, só eu. Quando pergunto à minha sobrinha se quer que eu deixe a luz da casa-de-banho acesa, ela responde-me que não, que teve uma ideia muito melhor, que podíamos deixar as luzes toooooodas acesas. Eu hesito mas acabo por consentir, ainda a pensar na conta da electricidade. Talvez quando ela crescer a luz do luar seja suficiente para afastar os monstros (we only come out at night...), mas para já deixamos as luzes tooooodas acesas, porque não? Podia não lhe fazer sempre a vontade, mas faço. Na natação, os miúdos todos a darem aos pés na horizontal e ela na vertical com uma bóia enfiada por debaixo de cada axila a dizer Tia, já viste, tão giro, parece mesmo que estou a andar!, esquece lá aprender a nadar. Agora os dois num quarto de hotel de luxo, o quarto mergulhado na noite e de novo aquele medo do escuro. Posso acender uma luz, pergunto. Mas porquê, o que é que se passa? Nada, é estúpido, tenho medo do escuro, só isso. Então ele vai e corre a cortina do quarto e a luz do luar entra pelo janela a dentro e cheira a baunilha.
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