19 abril 2011

O quarto maior na casa da quinta dos meus avós nunca era utilizado, excepto pelas criadas que semanalmente limpavam meticulosamente os sofás, as estantes, os troféus do meu tio, as pratas, abriam as janelas e arejavam a sala, só para nessa própria manhã voltarem a fechar as portadas e cobrirem tudo com uns lençóis brancos que sempre me apavoraram. Durante anos esperou-se o dia em que viria alguém suficientemente importante para se poder usar a sala, durante anos o quarto foi limpo semanalmente e durante anos o Natal foi passado com a família acotovelada no quarto mais pequeno da casa, o quarto que tinha os sofás cremes baratos, comprados em Espanha, a braseira, a televisão e o tapete no canto roído pelo cão. Durante anos esperou-se, mas nunca ninguém apareceu com essa importância lá por casa e no dia em que veio o bispo, ficou-se pela capela, atrasado que estava para um casamento nas Caldas. Isto tudo até ao meu primo fazer 15 anos, dar o grito do Ipiranga, arrastar um colchão bem para o centro dos móveis, dos sofás, dos troféus e das pratas e dizer: Recuso-me a continuar a dormir com as minhas primas.

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