26 dezembro 2013
12 novembro 2013
Recentemente visto...
Le scaphandre et le papillon, de Julian Schnabel (2007), vencedor do prémio de melhor realizador em Cannes nesse ano. Andava a evitar ver este filme, pela mesma razão que evito ver filmes sobre aborto, crianças com cancro ou o anticristo. Porque me deprimem, só isso. Mas acabei por ver, não porque me tivesse decidido a fazê-lo, mas antes porque ele veio ter comigo num dos canais de televisão. Do mesmo realizador já tinha visto o Before Night Falls (2000) sobre o escritor cubano Reinaldo Arenas, que gostei muito. O próprio Julian Schnabel era artista (pintor e escultor) antes de se ter tornado realizador, o que pode explicar a sensibilidade visual dos seus filmes e a escolha dos temas (invariavelmente sobre outros artistas). Adorei tudo neste filme, não só a história mas sobretudo a maneira como está contado e filmado. Vivi o filme com tal intensidade que suspeito que me vou lembrar dele durante muitos anos. De admirar é também o facto de o realizador, americano, ter aprendido francês e realizado o filme todo em francês, com actores franceses e em França para se aproximar mais da história real. Fica por ver o documentário sobre o Lou Reed - Berlin (2007).
09 novembro 2013
There's a light that never goes out
Take me out tonight because I want to see people and I want to see life
Uma das minhas paixões de infância foi a Belinda Carlisle. Devia ser muito nova quando me apaixonei por ela, porque me lembro que ainda não sabia falar inglês e por esse motivo fiz uma versão portuguesa para cada uma das músicas que conhecia dela e que no total eram apenas quatro. Lembro-me de escrever essas letras durante um dos verões passados em casa da minha avó Maria, mais precisamente no quarto que costumava ser o da minha mãe e que dava, não para a rua, mas para uma marquise. Em vez de achar claustrofóbico esse pormenor, eu achava-o particularmente reconfortante já que me permitia sentar no parapeito da janela sem medo de vertigens, mas em tudo o resto igual ao que faria uma donzela apaixonada com o herói vários pisos abaixo no jardim. Para além disso, era na marquise que a minha avó estendia a roupa lavada, o que fazia com que o quarto cheirasse particularmente bem e de manhã acordava com o cheiro a torradas porque a marquise estava ligada à cozinha. A Belinda Carlisle era bonita e sexy e as suas músicas eram melódicas e davam para dançar, o que, antes dos 10 anos, era o motivo principal para eu gostar de uma música. Como as letras eram da minha autoria, podia escrevê-las exageradamente românticas e a minha felicidade era completa. Esta era a altura da minha vida em que nos tempos livres me divertia a desmaiar e a morrer incessantemente, aperfeiçoando de cada vez que o fazia alguns pormenores que a minhas primas e a minha irmã iam corrigindo. Morrer de olhos abertos, por exemplo, foi algo que comecei a fazer depois da minha prima mais velha me chamar a atenção para o facto de achar inverosímel eu morrer sempre de olhos fechados. No outro dia, em casa de uns amigos, observámos como a filha do meio, com oito anos, gostava de desmaiar romanticamente, indiferente às brincadeiras dos irmãos de roda da PlayStation e do iPad. Sorri comovida. Não sei que fascínio a morte e o desmaio exercem nalgumas crianças, mas foi bom saber que não estava sozinha na minha infância romantizada e teatral. De toda as qualidades da Belinda Carlisle, a que mais me impressionava, no entanto, e a que mais invejava, era ela ser ruiva. Isto advinha claro de uma outra paixão minha, transversal à Belinda Carlisle, e que era a Ana dos Cabelos Ruivos, que eu rapidamente passei a chamar de Anne of Green Gables, quando aprendi inglês e comecei a ler os livros originais, os vários volumes, até ela crescer e ser quase avó de netos. Eu adorava a Ana dos Cabelos Ruivos e achava inacreditável que existisse alguém tão parecido comigo, mas órfã e ruiva. Apesar de ser particularmente doloroso para a personagem ser ruiva, eu invejava essa característica e sonhava com o dia em que o rapaz da escola se apaixonasse irrevogavelmente por mim e pelos meus cabelos ruivos. Portanto, ainda por cima, a Belinda Carlisle era ruiva, o que é que se podia querer mais?
Há uns anos, revi a cantora num videoclip e nem queria acreditar que se tratava da mesma pessoa que eu idolatrara na infância. Pareceu-me tão magra e ordinária que senti um aperto no peito com a desilusão e não teria voltado a pensar nela se, aqui há uns dias, não tivesse feito um backup da música do meu computador antigo e não tivesse dado com as tais quatro músicas que conhecia dela. Quando a pesquisei na Google, pareceu-me uma senhora normalíssima, autora de música duvidosa, certo, mas de resto sem outros grandes defeitos aparentes. E o pior é que gostei mesmo de ouvi-la outra vez. Como se uma parte de mim nunca tivesse passado dos oito anos, por aí.
31 outubro 2013
M
Agora sabemos que o primeiro sítio que conheceste foi Amesterdão. Já estavas na minha barriga quando partimos da cidade de bicicleta para ir ver os moinhos. Já andaste de avião. Já ouviste a tua mãe tocar Satie no piano e o teu pai a cantar Tom Waits. Já fizeste iogurte. Já nos pregaste um grande susto. Já tens cabeça, corpo, braços, pernas e coração. E já tens nome. Não é muito, mas é um começo. O teu começo e o nosso recomeço.
03 outubro 2013
29 setembro 2013
I don't see what anyone can see in anyone else... but you
You're a part time lover and a full time friend... The monkey on your back is the latest trend. I don't see what anyone can see in anyone else... but you. Du dududu dududu dudududu...
19 setembro 2013
Recentemente vistos...
Dark Horse, de Todd Solondz (2011). Gostei. Mas continuo a preferir o Happines!!
The Place Beyond the Pines, de Derek Cianfrance (2013). Não gostei. Curiosamente, do mesmo realizador gostei muito do Blue Valentine (2010), também com o Ryan Gosling e um dos primeiros filmes que vi com o P. :)
18 setembro 2013
15 setembro 2013
Uma prática comum em Portugal é classificar as pessoas em boas e más e, ainda, numa terceira categoria, que é também a minha preferida, a 'no fundo boa, mas'. Eu acho mais útil e seguro classifcar as pessoas em agradáveis e insuportáveis. O que não quer dizer que espere mais das primeiras do que das segundas. Uma pessoa insuportável não é necessariamente uma má pessoa. É só chata. Ou porque é muito rígida nos seus valores morais ou porque é desinteressante ou porque opina sobre tudo ou simplesmente porque não tem sentido de humor. Uma pessoa agradável, por sua vez, não é necessariamente uma boa pessoa nem uma pessoa melhor do que uma anterior que classificámos de insuportável, mas alguém com quem é mais fácil passar o tempo. E, infelizmente, quando trabalhamos somos obrigados a passar muito tempo com pessoas de todo o tipo, a maior parte das vezes não desenvolvendo qualquer tipo de relação profunda com ninguém. Nas pequeninas realidades que vivemos diariamente, dificilmente encontraremos alguém como o Hitler (indiscutivelmente um mau rapaz) ou como a Madre Teresa de Calcultá (aparentemente uma boa pessoa). Se calhar se trabalhássemos com eles até acharíamos que o primeiro era engraçado e a segunda uma chata, mas a História fez-nos perceber o seu lugar na classificação das pessoas boas e más. A História é sábia e paciente; também se engana e é por vezes subjectiva, reflectindo o bom e o mau segundo os valores da época, mas de forma geral pode dar-se ao luxo de atribuir juízos de valor. Nós não. As pessoas que comumente classificam os outros em bons e maus baseiam-se em informação superficial e pouco rigorosa, por isso deviam limitar-se a classificações menos arrojadas. Pará além de que, convenhamos... Nem todos nós entramos para a História. Somos demasiado normais para o fazer. E quando digo normais refiro-me a termos todos bom e mau potencial. O que me leva à classificação que eu considero mais lógica e útil para o dia-a-dia em agradáveis e insuportáveis, uma classificação tão superficial como as relações que somos forçados a manter no dia-a-dia. Os nossos amigos conhecem-nos bem, gostam das nossas qualidades e brincam com os nossos defeitos. Não se vão embora à mínima discussão. Não compram tudo o que se comenta sobre nós. Não acham que somos especialmente boas pessoas nem se consideram eles próprios um poço de virtudes. Mas gostam de nós no matter what. Todos os outros não interessam verdadeiramente.
14 setembro 2013
Ouvíamos Dire Straits no quintal do Pedrocas, de fato-de-banho e descalços, enquanto comíamos sandes em triângulos e brincávamos à mangueirada. Não tenho saudades da adolescência. Nem que me pagassem, voltava a ter 13 anos. Mas a recordação dessas tardes é tão doce, que ao ouvir o Walk of Life de surpresa no carro, os olhos se enchem de lágrimas. Na escola não era cool gostar de Dire Straits. Mas na escola não havia mangueiradas nem tardes de fato-de-banho no quintal do Pedrocas e por isso era impossível alguém na escola saber do que estava a falar quando criticava Dire Straits. O Pedrocas e a irmã eram divertidos. Ele tinha 14 e ela 10 e encenavam piadas elaboradas que contavam com pompa e circunstância, como se de um alto de um palco. Nós ríamo-nos. Agora que penso nisso, toda a família era engraçada, começando pelo avô e acabando no gato. Há cerca de dois anos encontrei o Pedrocas na praia e, por graça, fui cumprimentar a família. Ninguém me conheceu. Ninguém se lembrava de mim, nem daquelas tardes fantásticas em casa deles. Ninguém saberia dizer porque é que na escola eu defendia os Dire Straits a custo de tanto sacrifício social. Se calhar porque durante muitos anos não fui a Sofia, mas sim a irmã da Mariana. O Pedrocas deve ter pensado nisso, porque de repente ouço 'Não se lembram da Sofia? É a irmã da Mariana!' Todos: mãe, pai, avó, avô, gato... 'Claro, a Mariana, tão simpática, que é feito dela?' Está óptima, penso para comigo. E com a memória que ela tem, provavelmente não se lembra de nenhum de vocês. É verdade, a minha irmã nunca teve grande memória. Ainda hoje sou eu, a minha mãe e o meu pai que a recordamos de quem é que andou com ela onde. Por exemplo 'Nao, Mariana, a Maria Inês era da Escola Alemã e andou contigo do quinto ao sexto ano. A Joana é que era da primária e a Patrícia da Cidade Universitária'. É um fenómeno. Um mistério como é que ela confunde com tanta facilidade os três universos, vulgo escolas, onde ambas andámos. A maior parte das pessoas não se lembra da vida até aos três anos. A minha irmã não se lembra de nada até aos 18. Vendo bem, não sei se deva criticar. Ainda no outro dia ia jurar que o Winter cantava o Dock of The Bay no filme Alice in den Städten. Na verdade, a minha imaginação foi ao ponto de me lembrar do filme sempre que acontecia ouvir Otis Redding. Pior, convenci imensa gente de que assim o era. E finalmente no outro dia revejo o filme e afinal a música que o Winter canta é o Under the Boardwalk. Senti-me traída pelo próprio Wim Wenders. A propósito, o Otto Sander morreu. Lá foi mais um anjo...
Just in case...
Se um dia me der qualquer coisa má, por favor não me comecem inotrópicos. As minhas tensões são mesmo 85/35 mmHg.
07 setembro 2013
06 setembro 2013
Sofro de ataques de riso. Não são muito frequentes, mas são memoráveis e, claro para mim, de morrer a rir! (Ainda que por vezes ligeiramente embaraçosos). Para além disso, funcionam como aquelas velas que repetidamente reacendem: nunca perdem piada. O primeiro destes ataques de riso foi o da pele de carneiro, que os meus pais e a minha irmã certamente se lembrarão. É difícil explicar porque nunca foi racionalmente engraçado, mas ainda hoje me diverte. Tinha seis anos e ri durante tanto tempo e tão descontroladamente que por pouco não me internavam... Seguiram-se mais três ataques de riso no secundário e, por fim, um na semana passada, quando o segurança da garagem involuntariamente nos partiu o cartão de entrada e propôs-se a corrigir o dano com fita-cola que tentou primeiro cortar com alicate e depois com bisturi. Quem sofre de ataques de riso sabe bem que isto é uma condição séria. Sabe bem que ter um ataque de riso não tem nada a ver com achar piada a uma situação engraçada. Sabe bem que, mesmo que esteja em causa ir para a rua, ser despedido ou ofender alguém, a pessoa que sofre de ataques de riso não vai parar de rir tão cedo. O lado bom dos ataques de riso, é que, como nunca perdem piada, são óptimos anti-depressivos de acção instantânea, por isso guardo-os com muito carinho nas minhas memórias para me poder socorrer deles sempre que é preciso.
Em 2001 passei três dias em Amesterdão de mala de 20 quilos às costas e a dormir com uma família de pequenos roedores numa pensão chamada Kabul. Passaram 12 anos desde essa viagem e entretanto esqueci as razões que me levaram a embarcar em tão desconfortável aventura. Sem querer, envelheci. Não fiquei velhinha, mas envelheci. Coincidentemente, o P. tinha tido uma experiência semelhante, também durante um interrail nos tempos da faculdade. Este fim-de-semana Amesterdão afigurou-se-nos bem mais limpo e confortável, como uma nova cidade ainda por nós desconhecida. E soube muito, muito bem.
05 setembro 2013
27 agosto 2013
Estou tão cansada que não é justo a semana nem ir a meio. Os pensamentos, típicos de pensamentos cansados, rodopiam incessantemente e não me deixam dormir. Quero adormecer agora, sem demora, e apagar uma lembrança antiga que periodicamente me vem visitar com uma insistência dolorosa. Hoje é um desses dias, é uma dessas noites, em que a mãe do PM, ao sentir o filho morto, repetidamente me diz Oh, doutora, e agora como vou eu protegê-lo do frio? Ele sempre teve tanto frio...
Aprendemos com os pais a sentar à mesa, a dizer por favor, a atar os sapatos. Aprendemos com eles a fazer os trabalhos de casa, a ler, a explorar o mundo da música e do cinema. Aprendemos com os pais um milhão de coisas e, no meu caso, aprendi também a dizer cRRoissants em vez de croissants e cÔmigo em vez de comigo. Sempre foi tal a minha falta de insight e/ou de ouvido, que demorei anos a perceber a diferença entre o que eu dizia e o que todos os outros diziam. E o que eu dizia, ao que parece, era, aos ouvidos dos outros, hilariante. No outro dia lembrei-me de comentar este assunto com a minha mãe e a minha irmã que me perguntaram intrigadas: mas qual era o problema? os teus colegas não gostavam de cRRoissants?
20 agosto 2013
Todos nós temos aquele colega que é indiscutivelmente gay e que, por algum motivo, se mantém casado ou com namorada. Todos nós nos apercebemos dos seus maneirismos, do seu gosto elegante, da sua alegria contagiante e do seu número invulgar de amigas íntimas que tão bem caracterizam alguns homossexuais. Todos à excepção, claro está, do próprio, bem como de uma pequena percentagem de colegas que classifica a pessoa em causa como 'benzoca' sic. Sempre me espantou a falta de insight destas pessoas. Mas a verdade é que eu própria sofri de falta de insight durante muitos anos, começando pela triste história do croissant.
12 agosto 2013
Suspeito que uma das cruzes do P. no nosso casamento vão ser estas aulas de ténis. (A minha cruz vai ser ouvi-lo a cantar e/ou assobiar faça chuva ou faça sol, mas penso que sobre isso já falei anteriormente.) Quando uma das minhas maiores motivações para jogar ténis é poder finalmente usar a saia plissada e curta que tenho guardada há anos no armário, ja se vê o potencial que estas aulas têm para levar ao desespero o P. do outro lado do court. A somar a isso vem o facto de já estar naquela idade com a qual se aprende a jogar com o menor estilo possível. Ele a jogar, a ensinar a jogar e mesmo a revirar os olhos é sexy. Para além disso as noites de Verão convidam a sair de casa de saia plissada e curta, mas receio que se insistir muito com estas aulas ele ainda saia de casa. Na igreja prometeu amar-me na saúde e na doença, mas não no campo de ténis. É pena... porque eu divirto-me imenso!!
03 agosto 2013
Conhecendo (obsessivamente!) Kieslowski...
La Double Vie de Veronique, de Krzysztof Kieslowski (1991). Tudo é belo neste filme. A história é deliciosa, as cores lindas, a música arrebatadora e a personagem principal, interpretada por Irene Jacob (também protagonista do Trois Couleurs: Rouge de 1994), é simplesmente adorável.
20 julho 2013
Arrumei as cartas da Kiki num dossier dentro de micas. Entre aulas de sapateado, churrascos em casa de amigos e namorados distribuídos por diferentes cidades, os anos passavam e as cartas dela entravam na minha vida e iam enchendo-a de cor. As minhas cartas eram contemplativas, melancólicas e quase insuportavelmente descritivas. Partiam de Portugal, cruzavam o oceano e imagino-as a aterrarem primeiro nos olhos dela e logo dentro de um grande baú de recordações num mar confuso de cartas dos mais variados amigos e namorados. Não obstante, ela respondia entusiasmada, decorando as folhas de papel com alegres autocolantes e muitos pontos de exclamação. Quando éramos mais novas e antes de ela partir para o Brasil, costumava pegar em mim, pendurar-me à sua cintura pelas pernas e rodopiar comigo até cairmos. E, mais tarde, quando nos reencontrámos em Munique, foi buscar-me ao aeroporto vestida de Bavariana e passeou-me pelos Biergarten e pelos bares de Munique, falando sobre as suas aventuras e desaventuras como o fizera por carta durante tantos anos. Bebemos, falámos, dançámos e rimo-nos. Continuava com mais vinte centímetros do que eu, o cabelo liso e louro pelo meio das costas e aquela pronúncia, que em livros de estudo se torna tão enervante, mas que nela sempre foi irresistível.
19 julho 2013
A minha segunda década de vida foi, das três, a mais infeliz. E assim, por recalcamento ou apenas por conveniência, acabei por me tornar toda eu infância e anos trinta. A maior parte dos acontecimentos entusiasmantes da minha infância ocorreram na minha imaginação. Os restantes ocorreram do outro lado do oceano, em São Paulo e, mais precisamente, em Boituva, na personagem incrível que era a minha amiga Kiki.
17 julho 2013
Recentemente vistos...
Lore, da realizadora australiana Cate Shortland (2012). Tudo foi fácil na minha adolescência e por isso cresci devagar, sem pressa. Tao devagar que, no final da faculdade, parecia ainda uma criança na atitude, linguagem, pensamentos, sonhos e ilusões. E ainda hoje não estou muito diferente. A opinião dos meus pais nunca destoou da minha. Desde os 18 que cruzo o mesmo quadrado do que eles em cada eleição. Nunca amadureci. E se segui alguns dos meus próprios interesses, fi-lo apenas por paixão, nunca por maturidade. Uma personalidade diferente, característica de irmã mais velha por exemplo, teria determinado um tipo de crescimento diferente, mas eu sou o bebé da família ('it happens, so'...) cronologicamente e por feitio. Quando finalmente me deparei com as primeiras frustrações e obstáculos, já era demasiado tarde: sempre fui irremediavelmente infantil. Ainda que olhe agora para os internos mais novos e os ache desesperadamente jovens, a verdade é que ainda hoje o meu discurso é ingénuo e os meus pensamentos superficiais. As tragédias que vivi limitaram-se àquelas escritas e interpretadas por mim dentro das quatro paredes do meu quarto. É óbvio que uma adolescência perturbada condiciona um sofrimento que não desejo a ninguém, mas é também (potencialmente) geradora de pessoas muito mais interessantes do que eu. Não é bom nem mau. É como é. Em Lore assistimos ao desabrochar de uma adolescente na adversidade, do ponto de vista intelectual, emocional e sexual. E o filme é lindo. Fiquei ainda com curiosidade de ver a primeira longa metragem para cinema desta realizadora, Somersault (2004), também sobre um final de adolescência perturbado por motivos bem diferentes dos de Lore.
Camille Claudel 1915, de Bruno Dumont (2013). Fiquei com sentimentos ambíguos em relação ao filme. É sempre maravilhoso ver a Juliette Binoche no grande ecrã e o filme transmite bem a sensação de vazio e claustrofobia que Camille Claudel deve ter sentido durante o seu internamento ad eternum no asilo. Mas vazio é sempre vazio.
11 julho 2013
25 junho 2013
Já não me lembrava...
Que o meu horário de Verão no hospital é de 87 horas semanais... Sem folgas, saídas ou horas extraordinárias. Fuck...
23 junho 2013
I'm gonna make it up for all of the sunday times...
Sempre achei que esta música espelhava a minha vida de fins-de-semana passados no hospital, semana atrás de semana, todos estes sábados e domingos roubados... Afinal está a falar do jornal...
13 junho 2013
12 junho 2013
Três dias...
... três filmes, três cores e três lemas. Está quase a fazer uma década desde que esta trilogia apareceu mas, por motivos pouco nobres, ainda não a tinha visto. Os filmes são do realizador polaco Krzysztof Kielowski e representam respectivamente a liberdade, a igualdade e a fraternidade, os lemas da França distribuídos pelas três cores da bandeira: Trois couleurs: Bleu (1993); Trois couleurs: Blanc (1994) e Trois couleurs: Rouge (1994). E são simplesmente lindos.
07 junho 2013
Há umas horas :)
Before Midnight, de Richard Linklater (2013). Como muitos, cresci com eles, fui adolescente quando eles eram jovens adultos, fui romântica, desiludi-me, voltei a encontrar-me e tenho por hábito navegar neurótica à volta dos mesmos temas das suas conversas. É reconfortante poder ir ao cinema (re)vê-los de nove em nove anos.
02 junho 2013
Recentemente vistos...
7 días en La Habana de sete realizadores diferentes (2012). Gostei muito, muito. E foi também uma maneira de reviver a nossa viagem mágica a Cuba há quase três anos atrás.
Para lá das colinas (Dupa dealur), do realizador romeno Cristian Mungiu (2012). Gostei muito. Da história, das personagens e da dureza do cenário interrompida por diálogos paralelos deliciosos. Ganhou os prémios de 'melhores actrizes' e de melhor argumento no Festival de Cannes de 2012. O mesmo realizador fez o filme 4 meses, 3 semanas e 2 dias em 2007, mas ainda não tive coragem de o ver.
28 maio 2013
Recentemente vistos...
The Loneliest Planet, de Júlia Loktev (2011). Adorei.
Faust, de Aleksandr Sokurov (2011). Muito bom.
Spring Breakers, de Harmony Korine (2012). Bonito e irónico, mas demasiado violento para a minha alma sensível.
09 maio 2013
Recentemente visto...
Los Amantes Pasajeros, de Pedro Almodávar (2013). Não sei porque é que as críticas foram tão fraquinhas. Eu achei o filme hilariante :)
No, de Pablo Larraín (2012) Faz parte de uma trilogia sobre a ditadura no Chile, juntamente com os filmes Tony Manero (2008) e Post Mortem (2010), todos do mesmo realizador. Adorei. Fica por ver o primeiro dos três.
La migliore offerta, de Giuseppe Tornatore (2013). Este foi o realizador que fez as delícias da minha infância e adolescência com o filme Nuovo Cinema Paradiso (1988). Não fiquei especialmente impressionada com este filme, mas gostei da personagem principal, interpretada por Geoffrey Rush.
07 maio 2013
Me and my big mouth...
Arrasto repetidamente as minhas histórias e as dos outros para um público que não conheço e cujas caras e nomes não retenho. Arrasto as minhas histórias e aproprio-me das dos outros again e again, mesmo depois de dizer que vou ser diferente. Nunca fico diferente. Falo sempre demais.
Gostava de ver um lado positivo nisto. Como as pessoas que, com uma ponta de orgulho, dizem que sempre tiveram o defeito de ser teimosas. Mas não há orgulho possível em falar demais, ser incontinente nas palavras, nas histórias, nas piadas... Exponho tudo e todos como se estivesse num estúpido palco. Só para ter piada. Só para passar o tempo. Só para fazer desta vida trágica um romance cómico mal engendrado. É tão superficial quanto isso. E eu que nem nunca gostei de palhaços...
Gostava de ver um lado positivo nisto. Como as pessoas que, com uma ponta de orgulho, dizem que sempre tiveram o defeito de ser teimosas. Mas não há orgulho possível em falar demais, ser incontinente nas palavras, nas histórias, nas piadas... Exponho tudo e todos como se estivesse num estúpido palco. Só para ter piada. Só para passar o tempo. Só para fazer desta vida trágica um romance cómico mal engendrado. É tão superficial quanto isso. E eu que nem nunca gostei de palhaços...
28 abril 2013
Crescer entre irmãs
ELAS (a cantarolar): Somos princesas! Somos princesas! EU: Então e tu, és um príncipe? ELE (com ar de mau): Não! Sou o cabeleireiro!
24 abril 2013
Quando éramos adolescentes e não paravam de chover telefonemas lá em casa para a minha irmã, mesmo assim ela conseguia convencer-me que um dia eu seria popular e teria muitos amigos e pretendentes. Esta conversa fazia parte dos temas preferidos da minha irmã e que se destinavam a reforçar a minha autoestima. Essa foi seguramente a razão para eu, até muito tarde, ter uma autoestima desmedidamente grande e em completa dissonância com a realidade. Enquanto a maioria das raparigas bonitas se olhavam ao espelho e se viam gordas ou feias, eu, mesmo que engordasse, via-me sempre magra, bonita e, claro, sem borbulhas. Outro exemplo disso foi a minha paixão arrebatadora de adolescente por um colega de escola. Apesar de não ser minimamente correspondida e de a relação nunca ter passado da brincadeira fascinante que era dar carolos um ao outro, eu acreditava profundamente no seu amor por mim. Claro está que o facto de ele ter tido várias namoradas e de eu nunca ser uma delas era apenas um pequeno pormenor a limar melhor no futuro. Pela altura em que me apercebi da realidade, minha e à minha volta, já tinha uma capa protectora suficientemente fofa para levar pancada emocional durante vários anos e, mesmo assim, sobreviver mais ou menos mentalmente sã a tempo de te conhecer e voltar a ser desmedidamente feliz.
23 abril 2013
Não me lembro exactamente quando é que passei de ser uma promessa para ser uma desilusão, mas penso que foi algures durante o internato, ou talvez imediatamente depois. Em rigor, na faculdade já não era nenhuma promessa, mas nessa altura, também não era uma desilusão. A desilusão veio mais tarde, como disse, durante o internato ou imediatamente a seguir. Não quero ser uma desilusão, mas não vejo maneira de ser diferente. Quando se trabalha entre 63 e 68 horas por semana e três fins-de-semana por mês, não há tempo nem motivação para se ser brilhante. Se em pequena, fui uma promessa, isso apenas se deveu ao facto de tudo na altura ser tão fácil para mim: perceber a matéria, ter boas notas, portar-me bem e agradar aos professores. Mas mesmo nessa altura o meu objectivo sempre foi despachar os trabalhos de casa e o estudo para os testes o mais rapidamente possível para poder dedicar o resto da tarde a ouvir discos, ler romances, declamar poesia e simular desmaios e mortes trágicas. Não mudei nada. Não fiquei mais inteligente nem mais burra. O mundo à minha volta é que se tornou muito mais exigente. E eu sem disponibilidade nenhuma em abdicar do que sempre foi verdadeiramente importante para mim. Gostava de saber onde é que os meus colegas vão buscar as suas autoestimas. Deve ser porque não têm o meu chefe...
22 abril 2013
17 abril 2013
Para ouvir em repeat...
Quando regressámos, trouxemos connosco um bocadinho de Istambul nas histórias do Orhan Pamuk, nas fotografias do Ara Güler e no jazz do trio de Volkan Hürsever...
13 abril 2013
Recentemente visto
The Deep Blue Sea, de Terence Davies (2011). Gostei muito. É um filme bonito e intenso, não só pela Rachel Weisz, que está lindíssima e tem uma interpretação fantástica, mas também pela maneira como está filmado. Baseado numa peça de teatro de Terence Rattigan (1952).
12 abril 2013
11 abril 2013
30 março 2013
23 março 2013
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