17 julho 2013

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Lore, da realizadora australiana Cate Shortland (2012). Tudo foi fácil na minha adolescência e por isso cresci devagar, sem pressa. Tao devagar que, no final da faculdade, parecia ainda uma criança na atitude, linguagem, pensamentos, sonhos e ilusões. E ainda hoje não estou muito diferente. A opinião dos meus pais nunca destoou da minha. Desde os 18 que cruzo o mesmo quadrado do que eles em cada eleição. Nunca amadureci. E se segui alguns dos meus próprios interesses, fi-lo apenas por paixão, nunca por maturidade. Uma personalidade diferente, característica de irmã mais velha por exemplo, teria determinado um tipo de crescimento diferente, mas eu sou o bebé da família ('it happens, so'...) cronologicamente e por feitio. Quando finalmente me deparei com as primeiras frustrações e obstáculos, já era demasiado tarde: sempre fui irremediavelmente infantil. Ainda que olhe agora para os internos mais novos e os ache desesperadamente jovens, a verdade é que ainda hoje o meu discurso é ingénuo e os meus pensamentos superficiais. As tragédias que vivi limitaram-se àquelas escritas e interpretadas por mim dentro das quatro paredes do meu quarto. É óbvio que uma adolescência perturbada condiciona um sofrimento que não desejo a ninguém, mas é também (potencialmente) geradora de pessoas muito mais interessantes do que eu. Não é bom nem mau. É como é. Em Lore assistimos ao desabrochar de uma adolescente na adversidade, do ponto de vista intelectual, emocional e sexual. E o filme é lindo. Fiquei ainda com curiosidade de ver a primeira longa metragem para cinema desta realizadora, Somersault (2004), também sobre um final de adolescência perturbado por motivos bem diferentes dos de Lore.

Camille Claudel 1915, de Bruno Dumont (2013). Fiquei com sentimentos ambíguos em relação ao filme. É sempre maravilhoso ver a Juliette Binoche no grande ecrã e o filme transmite bem a sensação de vazio e claustrofobia que Camille Claudel deve ter sentido durante o seu internamento ad eternum no asilo. Mas vazio é sempre vazio.

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