Em caracteres vermelhos iluminados está escrito o número 86. Uma série de cadeiras vazias alinham-se em frente ao mostrador e, na última fila, encontro-me eu sentada, de pernas cruzadas sobre a cadeira, em posição de meditação. Estou no corredor da farmácia, o único lugar no hospital onde, a partir do final da tarde, posso estar completamente sozinha. O único lugar onde o meu chefe não me encontra. Por isso adoro este corredor. Há 3 anos que me sento aqui, às vezes por 5 minutos apenas. É aqui que eu como os meus chocolates, faço telefonemas e inspecciono a depilação das pernas. Foi aqui que chorei inconsolavelmente quando, há 3 anos atrás, pensei em desistir do hospital. Foi aqui que chorei das múltiplas vezes que acabámos. É aqui que eu rio ao telefone com a A. e ficamos a saber das novidades que cada uma tem para contar à outra. Como um miúdo que se esconde debaixo dos lençóis e, assim, se sente protegido, eu escondo-me neste corredor, alheia ao facto de que, descubro isso hoje..., todos os doentes do quarto 3 do piso 2 me podem ver e, provavelmente ouvir, gratos pelo entretenimento que lhes proporciono, enquanto fazem a sua hemodiálise.
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