O efeito da sangria começa a sentir-se, lembro-me dos morangos no meio do espumante, como estavam saborosos e sexys, e a minha cabeça cambaleia. Por fim, acabo por me encostar ao ombro dele, o pára-arranca do trânsito a embalar-nos. Quando levei a minha sobrinha à praia, tinha ordens expressas da minha irmã para não a deixara adormecer no carro na viagem de regresso. Fiz de tudo, falei com ela, brinquei, cantei, ataquei-a com cócegas, mas os seus olhinhos a revirarem e a cabeça a cair acabaram por triunfar e culminar num sono profundo. A sério que tentei, desculpei-me à minha irmã, enquanto lhe passava a criança adormecida para o colo. Deixa lá, eu sei que e difícil. Agora estou com tanto sono que já nem consigo ter a cabeça no ombro e caio no colo dele, adormecendo instantaneamente. Acordo com um curva da estrada mais arrebitada, mas mantenho os olhos fechados. O meu pai fazia um jogo com os irmãos, de olhos fechados tentavam adivinhar em que parte do caminho iam. A estrada era irregular e sinuosa. O meu pai conhecia a estrada de cor. Recapitulava-a nos sonhos, na escola, em casa. Estava pronto para o jogo, mas assim que fechou os olhos, as curvas tornaram-se enganadoras e troçaram dele. Perdeu o jogo e foi a chacota dos irmãos. Mantenho os olhos fechados e agora tenho a certeza que estou na segunda circular, a passar na bomba de gasolina da bp, a subir o viaduto, mas aí o carro pára e afinal estamos já à porta de casa. Acorda, princesinha. Chegámos.
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