10 agosto 2010

Inícios são difíceis para mim. Olho para trás e são tantas as contradições que sei que as minhas memórias já não passam de construções. Já não consigo lembrar-me de praticamente nada como verdadeiramente aconteceu. Mas isto dos inícios lembro-me bem. O início no hospital foi muito difícil, o início da condução foi um suplício, o início da faculdade assustador. O início de qualquer relação um desastre. Mas agora estou com menos paciência e cada vez desejo menos inícios. Digo que não, fecho a porta antes que algo interessante entre por aqui adentro. Digo logo, com um sorriso céptico que se usa para as testemunhas de Jeová e para os seus folhetos sobre o amor de Deus, não, obrigada, não estou interessada. Um novo instrumento? Não, obrigada. Uma nova língua, um novo namorado, um novo meio de transporte? Não, obrigada. Não quero aprender mais nada sobre nada e não quero aprender a gostar de alguém. Tento recordar-me, mas não sei, não me lembro, quando é que me tornei assim tão aborrecida, preguiçosa, cansada, como uma velhinha, mas sem a menor sabedoria, sem artroses ou histórias engraçadas para contar e, sobretudo, sem netos.

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