Às vezes ainda sonho com a casa velha. Acordo suada, assustada com um pesadelo qualquer mas, quando o faço, não estou na minha casa de agora, estou na casa velha, no quarto azul, deitada na cama onde os meus bisavós dormiam lado a lado, a cama de corpo e meio, que antes os casais dormiam mais juntos. A minha avó nunca dormiu aqui, excepto para ter o meu tio e, 5 anos depois, a minha mãe. Depois dos meus bisavós falecerem, a cama foi abandonada e, só muito mais tarde, a minha mãe viria a recuperá-la, por amor aos seus avós e ao seu primeiro berço, e a colocaria no meu quarto. Nunca tive dificuldade em herdar os amores da minha mãe, por isso foi-me fácil gostar da cama, apesar do ranger da madeira e do ar desactualizado, pouco típico de uma adolescente e em total dissintonia com os posters das revistas espalhados pelas paredes. A madeira da cama era escura, a cabeceira alta e aos pés, uma cabeceira semelhante, de forma que a cama parecia um barco. Eu adorava o meu barco e, todas as noites, viajava até adormecer.
No outro dia, fui pôr a minha sobrinha a fazer a sesta. Ela adora fazer a sesta e a sensação que eu tive, ao passar por todo aquele ritual próprio do deitar de uma criança, só se compara à sensação de conforto e segurança que sinto quando penso na casa velha e na cama dos meus bisavós. Quero dar à minha sobrinha todo carinho do mundo, fazê-la acreditar em todas as ilusões e sonhos mágicos. Para que, quando for mais velha, tenha sempre um lugar para onde ir, quando a meio da noite acordar assustada. Quando um dia não souber quem é.
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