04 janeiro 2013
Poucos dias depois de ter sabido de ti, adoeci. Ao ver-me, o meu chefe assustou-se e foi assim que ficámos as duas de cama durante a primeira semana de Janeiro de 2013, dispensadas inclusive dos dois bancos desta semana, história que no meu serviço vai um dia tornar-se lenda. Teimo em tratar-te no feminino, espero que isso não te traumatize se acabares por sair um Manuel. O teu pai, quando me viu em lágrimas perante o telejornal e uma notícia sobre emigrantes, confirmou a minha suspeita de que serás menina, de que outra forma poderia haver tanto estrogénio circulante nas veias da tua mãe?, eu leia-se. Tenho medo que estar doente te afecte de alguma maneira, mas depois imagino-te aqui dentro, aconchegada naquela bola preta que vi um dia destes quando no final de um dia de consulta fui espreitar-te. Imagino-te aconchegada e respiro fundo. Vai correr tudo bem. O teu pai tem tomado bem conta de nós. Quis dizer-lhe que, mesmo doente, mesmo em casa, esta foi a passagem de ano mais feliz da minha vida, mas, como tem acontecido ultimamente, as palavras ficaram pelo caminho, afogadas em lágrimas. Não quero ser daquelas mães que se apaga e passa a viver apenas em função dos filhos, mas já não consigo prometer nada. Não consigo evitar que este blog seja já para ti e para nós. Nós como família em semente, a crescermos contigo. Foste feita com muito amor. Demorei tempo a fazer-te, porque demorei tempo a encontrar o amor. E, mesmo assim, é tanta a insegurança, são tantos os medos, tantas as falhas. Foi tanto o carinho e o sentimento de segurança que os meus pais me transmitiram durante a infância e ainda agora. Como conseguiram eles? Conseguirei fazer metade do que eles fizeram por mim? Metade do que a minha irmã faz pelos meus sobrinhos? O que eu sei é que, para já, é com o mesmo amor com que te fizemos, que vamos passando as noites que temos juntos a sonhar-te. A mim parece-me um bom começo. E todas as boas histórias precisam de um bom começo.
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