31 janeiro 2013

Lembro-me perfeitamente de estar deitada ao lado dele, numa daquelas casas coloniais fantásticas em Havana, onde está sempre calor e a luz é sempre laranja. Lembro-me de estar deitada ao lado dele e de estarmos a construir sonhos ali mesmo, com a luz laranja a entrar pelos vidraçais ao cimo da porta alta. Namorávamos há dois meses nessa altura. Isso foi antes de irmos à neve com a família dele, antes dos meus sobrinhos o chamarem de Tio P. Foi antes de percorrermos a Ruta del Cares, antes de descermos de Ravello para Amalfi. E foi antes de irmos morar juntos, remodelarmos a casa para ficar a nossa casa. E antes de nos casarmos na festa mais linda de sempre com os nossos melhores amigos e família. Antes da lua de mel mais doce do mundo. Transbordámos amor e carinho desde o início, desde aquela noite em Havana. E somos uma máquina de fazer sonhos. Mesmo nos momentos mais tristes. Obrigada, P.

Para nos entreter ao fim-de-semana a minha mãe punha-nos a fazer forminhas a partir de massa de farinha que nós depois pintávamos após terem ido ao forno cozer. Uma casa, uma pessoa, uma árvore... Uma vez fizemos uma aldeia inteira que ficou em exposição na sala da escola. Passávamos manhãs e tardes entretidas naquilo. Ainda não consigo trabalhar. A minha hemoglobina deve ter baixado para um dígito, não sei bem qual. Canso-me a ir do quarto para a sala. Hoje estive sentada no nosso banco alto branco a fazer arroz doce, pu-lo em tacinhas, fiz desenhos com canela. Não tenho fome, não comi o arroz doce. Estive assim entretida, só isso.

30 janeiro 2013

Nós queríamos pôr o assunto o mais rapidamente possível atrás das costas. Mas a natureza tem um ritmo próprio e habitualmente não tem pressa. Nós tínhamos. Nos primeiros dias em que fiquei de cama, nada aconteceu excepto quase perdermos a cabeça com o sentimento de perda e com o medo do que se iria passar a seguir. Depois disso veio a parte física da tristeza, uma confusão de comprimidos, ecos, intervenções e sempre este sentimento de perda.
Quando passeámos por Sevilha, percorrendo as várias praças, sentando-nos no Bar Europa a comer tapas, visitando a Catedral e perdendo-nos nos jardins Real Alcázar, o nosso embrião era mínimo em tamanho mas era já enorme em sonho. Como passei grande parte de Janeiro doente de cama, aqueles dias em Sevilha souberam a mel, mas quando chegámos a Granada caí mais uma vez de cama doente. O propósito da viagem era ir a um casamento de uns amigos a realizar-se em Alicante dois dias depois. Doente como estava, resolvemos ir directos para Alicante, dar um beijo aos nossos amigos e regressar a Lisboa. Não vimos Granada, não vimos Alhambra, não vimos Alicante, tão pouco fomos à praia ou ao casamento. Quando regressámos a Portugal, o nosso sonho tão grande desfez-se em apenas alguns segundos, aqueles que foram necessários para a médica fazer o eco, abanar a cabeça e dizer que se tratava de um aborto retido. Eu estava de banco nessa noite e sentia-me fisicamente bem, disse-o à minha médica, mas ela limitou-se a revirar os olhos, passar-me para a mão uma baixa de 30 dias e mandar-me para casa com indicação para voltar dentro de uma semana. Quando chegámos a casa, deitei-me na cama e fiquei à espera de te ver morrer.

18 janeiro 2013

Sociability is hard enough for me. Take me away from this big bad world and agreed to marry me!

14 janeiro 2013

Lembro-me de à noite, já deitada na cama, tentar sincronizar a minha respiração com a da minha irmã. Era um jogo que ao mesmo tempo me divertia e me embalava. Isto passava-se no meu primeiro quarto, o quarto do nascer do sol e que era também o quarto da árvore, aquela que não media mais do que a altura de um adulto pequeno quando os meus pais se haviam mudado lá para casa e que durante a minha infância dera um salto tão grande que já espreitava pelas janelas do quarto, localizado num quarto andar. O nosso quarto era tão grande que uma vez montámos uma tenda para quatro pessoas lá dentro, entre as nossas duas camas, uma secretária, dois armarios e um estirador. Os miúdos raramente precisam de muito espaco para sonhar, mas nós tínhamos muito espaço e gostávamos de o partilhar. Aos 15 anos mudei-me para o quarto do pôr-do-sol, que era também o quarto azul e o quarto dos livros. Nesta altura, lia facilmente um livro por semana e, por isso, as manhãs de fim-de-semana eram passadas habitualmente a escolher de entre as centenas de livros nas estantes, aquele que seria o livro eleito para aquela semana. Os meus pais dividiam as prateleiras dos livros do quarto azul em várias categorias e, dentro de cada categoria, por ordem alfabética de apelido do autor. Esta seria também a maneira como eu, 10 anos mais tarde quando saí de casa e ainda hoje, continuaria a organizar os meus próprios livros. A manhã em que escolhia um livro era muito entusiasmante. Nunca escolhia um livro só. Em vez disso, pegava em dois ou três e mais tarde nessa manhã fazia a selecção definitiva. Ainda mais do que agora, cada livro era um mundo onde mergulhava sem reservas, de pés e cabeça e só saía no final da última página, quer o livro fosse do meu agrado ou não. Hoje já não consigo ler um livro que não seja do meu agrado, não há nenhuma árvore a espreitar pela janela e tão pouco consigo sincronizar a minha respiração com a dele. O quarto já não é grande, é pequeno. Mas a magia continua. Comigo tenho o Tejo, a ponte e as estrelas, o calor do seu corpo no meu e dois corações em vez de um.

11 janeiro 2013

Plano para esta noite...

Thin Red Line... again... and again and again...

A semana começou assim...

... e acabou outra vez na cama... :(

08 janeiro 2013

O sonho de qualquer mãe

A única coisa que os meus sobrinhos dizem à refeição é: MAIS!

You're five!!

04 janeiro 2013

Poucos dias depois de ter sabido de ti, adoeci. Ao ver-me, o meu chefe assustou-se e foi assim que ficámos as duas de cama durante a primeira semana de Janeiro de 2013, dispensadas inclusive dos dois bancos desta semana, história que no meu serviço vai um dia tornar-se lenda. Teimo em tratar-te no feminino, espero que isso não te traumatize se acabares por sair um Manuel. O teu pai, quando me viu em lágrimas perante o telejornal e uma notícia sobre emigrantes, confirmou a minha suspeita de que serás menina, de que outra forma poderia haver tanto estrogénio circulante nas veias da tua mãe?, eu leia-se. Tenho medo que estar doente te afecte de alguma maneira, mas depois imagino-te aqui dentro, aconchegada naquela bola preta que vi um dia destes quando no final de um dia de consulta fui espreitar-te. Imagino-te aconchegada e respiro fundo. Vai correr tudo bem. O teu pai tem tomado bem conta de nós. Quis dizer-lhe que, mesmo doente, mesmo em casa, esta foi a passagem de ano mais feliz da minha vida, mas, como tem acontecido ultimamente, as palavras ficaram pelo caminho, afogadas em lágrimas. Não quero ser daquelas mães que se apaga e passa a viver apenas em função dos filhos, mas já não consigo prometer nada. Não consigo evitar que este blog seja já para ti e para nós. Nós como família em semente, a crescermos contigo. Foste feita com muito amor. Demorei tempo a fazer-te, porque demorei tempo a encontrar o amor. E, mesmo assim, é tanta a insegurança, são tantos os medos, tantas as falhas. Foi tanto o carinho e o sentimento de segurança que os meus pais me transmitiram durante a infância e ainda agora. Como conseguiram eles? Conseguirei fazer metade do que eles fizeram por mim? Metade do que a minha irmã faz pelos meus sobrinhos? O que eu sei é que, para já, é com o mesmo amor com que te fizemos, que vamos passando as noites que temos juntos a sonhar-te. A mim parece-me um bom começo. E todas as boas histórias precisam de um bom começo.