Uma dor de já não ser adolescente chegou essa manhã. Começou na garganta e foi descendo pela barriga até se instalar definitivamente no umbigo. Hoje estou aqui para ficar, disse a dor. Ela abanou-se, contorceu-se, riu-se, mas a dor não se mexeu e continuou a doer. Doeu não poder nunca mais dar o seu primeiro beijo, as suas primeiras carícias. Doeu não ser virgem. Doeu já ter tido vários parceiros. Doeu ter escolhido tratar de pessoas doentes. Doeu uma gota de sangue já não a fazer desmaiar. Doeu já não ser a primeira da turma. Doeu não estar sozinha à mesa com os pais e a irmã, só os quatro. Doeu não brincar às bonecas e não viver num mundo
imaginário e mágico. Doeu nunca mais se ter sentido especial, nem bonita sequer.
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