08 dezembro 2010

Cuba - non oficial mini guide

Ora, vamos começar pelo princípio. Apesar de se tratar de um país comunista, com relações cortadas com basicamente o mundo inteiro menos a China, não deixar os próprios habitantes sair do país, etc., sim, apesar disto, é preciso visto para ir a Cuba. Por isso o melhor é começarem por aí. É que o visto demora oito dias úteis a ser entregue e a mulher do embaixador não passa vistos de pijama a um domingo de manhã a toda a gente. Felizmente, passou para nós. Mas tivemos de dormir com ela. Bom, sigamos para a escolha da companhia aérea. Se acham que não existem companhias aéreas low cost que façam viagens de longa distância, é porque se esqueceram da Air Europa. O serviço não é mau, mas lembrem-se de comer que nem uns animais antes de embarcarem, porque o bolinho que nos servem durante as oito horas de viagem e o stock de comida disponível para comprar são indiscutivelmente insuficientes. Já agora, se tiverem mais de um metro e sessenta, esqueçam. Adiante. Antes do vôo e depois do visto, convém reservar a primeira noite. A melhor opção em Cuba, desde Viñales a Baracoa, é ficar numa das milhares de casas particulares reconhecidas pelo estado e que obedecem invariavelmente à regra dos três bs: bonitas, boas e baratas. Situadas em casa coloniais são, de resto como qualquer guia vos dirá, excepto talvez o American Express, o local ideal para mergulhar na realidade cubana e viajar até ao século XIX ao mesmo tempo. Nós ficámos em casa do Fábio e do Eugénio (já se vê que a filha do Raúl anda a fazer um bom trabalho) e a partir daí a nossa vida tornou-se muito mais fácil, com eles a marcarem todas as restantes noites por nós, porque, sim, em Cuba, todos têm um amigo ou um primo altamente recomendável e que gostam de ajudar. Para quem só se lembre de marcar a primeira noite na véspera da viajar, recomendamos que o faça por telefone, já que poucos cubanos têm email e os poucos que o têm passam o cabo dos trabalhos para o consultar e consequentemente só o fazem cerca de uma vez por semana. Portanto, marcada a primeira noite, as outras ficam facilmente resolvidas. No primeiro dia em Havana, por mais desapercebidos que se possam sentir, irão ser sempre detectados e abordados por vários guias que vos proporão visitas à cidade a preços imbatíveis. Esqueçam. Havana Vieja vê-se bem a pé e sozinho. Tudo o que é interessante está literalmente ao lado umas coisas das outras e, claro, cachapado nos nossos próprios guias. Não me perguntem porquê, mas no segundo dia já ninguém vem ter convosco. Durante os primeiros dias em Havana passeámos sem destino pela cidade antiga, apenas partilhando da vida vibrante dos cubanos e dos mojitos servidos por toda a parte. De dia, o sol brilha sobre as praças, os edifícios, as pessoas. E a noite pinta Havana de um encanto especial, não só porque deixa asas à imaginação para restaurar com os olhos todos aqueles edifícios em tempos gloriosos, mas também porque a luz escassa e aralanjada confere um cenário romântico difícil de encontrar noutro lugar. Ao longo do Malecon grupos de amigos, casais, guitarras e garrafas de rum alegram a cidade entristecida por anos de desleixo e repressão. A Casa da Música canta e dança pela noite dentro e nós cantamos e dançamos também e conhecemos cubanos e conversamos e queremos ser mais e viver mais desta cidade irresistível e cheia de contrastes. Mas acabamos por apanhar um autocarro da Via Azul e vamos até Viñales, uma reserva natural reconhecida pela Unesco, a oeste da vila, onde nos deparamos com uma beleza de cortar a respiração e enchemos os nossos corações durante três dias a passear por entre os mogotes e pelas grutas de bicicleta, a pé e a cavalo. Um pequeno alerta para quem quiser andar de bicicleta. Sabem aqueles calções ridículos com uma almofada no rabo? Exacto, esses. Convém levar. A idade de ficar com o rabinho assado já lá vai e, se quiserem usar a bicicleta sem estarem permanentemente de pé, tragam lá os calções, até porque as bicicletas não têm mudanças, são pesadas e puxam por nós. E antes de alugarem a bicicleta, certifiquem-se que está tudo em ordem para que não caiam na primeira curva que encontrem, corrente e pedais atirados para lados opostos da estrada, como aconteceu a nós. Sem comentários. Em Viñales convém ainda: 1) dormir na vila de Viñales e não em Pinar del Rio 2) não esquecer de ir um final de tarde até ao Hotel Jasmines, no alto de um monte junto à vila, com uma vista sensacional do parque natural e facilmente alcançável por táxi 3) passear pela vila, que é pequena e deliciosa, os cães famintos e coxos, as pessoas muito pobres mas especialmente simpáticas e jantar no Paladar Dago. À zona este da ilha decidimos ir de carro. As estradas são boas e estão razoavelmente indicadas, sendo preferível, contudo, devido à deficiente iluminação, conduzir durante o dia, não vá uma vaca lembrar-se de se atravessar no vosso caminho. Até porque as vacas, como tudo o resto em Cuba, pertencem ao estado e matar uma dá 10 anos de prisão, o que seria um disparate, quando há maneiras bem melhores de visitar Guantanamo (estou a brincar! Como sabem, a não ser que sejam muçulmanos e andem a berrar que querem pegar fogo ao Empire State Building, não vão tão cedo ver esse cantinho de Cuba). Visitámos de passagem Cienfuegos e dormimos em Trinidad. A quem tenha tempo, recomendamos que vá até Baracoa, que dizem ser uma região muito bonita. Gostámos de Trinidad, das galerias de arte, do pôr do sol no morro junto à capela, da mistura de cores das casas. Mas os aldeãos são muito pobres, desconfiados e fomos logo aldrabados no primeiro dia com aquela cena já conhecida: Ah, a casa onde vão ficar explodiu e eu conheço um sítio melhor, mas que na altura não sei porquê não pareceu tão óbvio. Isso mais uma praga de mosquitos fez com que tivéssemos ficado um pouco desiludidos e cansados e foi com esse espírito que seguimos até ao Cayo de Santa Maria, a norte da ilha, onde ninguém nos enganou, é certo, mas que acabou por se tornar a altura mais aborrecida da nossa viagem. Os resorts em Cuba funcionam todos com o regime tudo incluído, mas a nós fez-nos falta a simpatia e a beleza das casas coloniais e das famílias cubanas, com pequenos-almoços generosos e um mundo à volta para descobrir. Por isso, se no primeiro dia no Cayo de Santa Maria, comemos e bebemos a nosso belo prazer, no segundo dia estávamos já fartos e rumámos de volta a Havana que, por esta altura da viagem, já começava a saber a casa. De novo em Havana fizemos o passeio de arquitectura do Lonely Planet, inteligentemente, à noite, enquanto nos dirigíamos para o Paladar la Guarida, como iríamos em breve descobrir, provavelmente o melhor restaurante do mundo. Por entre as sombras e as ruas mal iluminadas, lá conseguimos ver os edifícios art deco e ficámos contentes. Ao mesmo tempo, fomos conhecendo a noite cubana das ruas e das ruelas, metendo conversa aqui e ali. O Paladar La Guarida, onde foi filmado o primeiro filme gay cubano, é recomendado por todos os guias e, de facto, é maravilhoso. Comam de tudo, olhem para tudo, bebem tudo. Ah, sim, e levem dinheiro, porque, apesar de não ser caro, se de facto experimentarem de tudo, acaba por vos custar cerca de 40 CUCs por pessoa e penso que eles não deixam ir embora toda a gente a quem falta uns CUCs para pagar a totalidade da factura. A nós, felizmente, deixaram. Mas para aumentar a fama de caluteiros dos tugas já bastamos nós. Contamos convosco para mudar isso. Ah, sim, pormenor importante, falta aqui falar do dinheiro. Em Cuba os turistas usam uma moeda, o CUC (peso cubano convertível), praticamente igual em quase tudo ao peso cubano, excepto no valor (1CUC=25pesos cubanos). É uma confusão e dá vontade de trocar na rua de uma forma ilegal CUCs por pesos cubanos, mas esta artimanha acaba por ser difícil, para além de que os pesos cubanos vindos dos turistas muitas vezes não são aceites e a pessoa acaba por se habituar, até porque nada é especialmente caro em Cuba, pelo menos por enquanto. Só é possível levantar cerca de 300 CUCs por dia e por cartão. Se o fizerem pelas máquinas multibanco, a comissão é muito menor do que aquela que é cobrada ao balcão nas casas de câmbio (CADECAs) ou pelo pagamento com o cartão de crédito (11% de comissão nos últimos dois casos). Se for para levantar dinheiro nas caixas de multibanco, convém que seja de dia e que esta esteja anexada a um banco (as tais CADECAs) onde possam reclamar caso a caixa coma o vosso cartão. Ah, e não se esqueçam de ficar com 25 CUCs por pessoa para pagar o imposto, caso queiram sair do país.

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