22 dezembro 2010

Às vezes, na falta do que fazer, fico na dúvida sobre quem sou. O conhecimento que carrego não sei quando nem onde o aprendi, nem sei dizer se é correcto. O nome pelo qual respondo parece-me sibilante e artificial. Os meus olhos no espelho olham outros olhos que não são os meus. De mim fica só a boca, igual à da minha irmã, da minha mãe e do meu avô, os meus pés feios e com calos e aquele sinalzinho castanho, com relevo, imediatamente à esquerda do umbigo. Fica, ainda, esta minha vontade constante de dormir e os poemas de Augusto Gil que em miúda recitava de cor. Ao meu lado, alguém por mim, com a minha boca e o meu sinal, os meus pés feios escondidos dentro de sapatos bonitos, fala com os colegas do trabalho sobre coisas importantes. E eu baixinho... Saira Santo António do Convento, a dar o seu passeio costumado. E a decorar, num tom rezado e lento, um cândido sermão sobre o pecado...

2 comentários:

zamora disse...

não estás bem onde estás... mas caramba, quem é que está?. só temos de representar bem o nosso papel; quanto melhor o representarmos mais nos sobra para ser.

zamora disse...

quis acreditar que éramos todos actores. mas parece que não, que a maior parte das pessoas está na matrix sem o saber. ainda bem para eles, mas não me tapem os olhos.
porém, pode um louco julgar a sua loucura, pois se o seu juízo faz parte dela? onde termina a matrix?