17 outubro 2010

Não podes desistir tão facilmente, diz-me ele. Não por isto. Podes dizer: estás a ser estúpido, pára lá com isso. Mas, se os teus sentimentos forem verdadeiros, não podes pôr tudo em causa por uma merda destas. Estou confusa, passei a noite em branco, mas sei que houve uma altura em que eu não desistia assim. Uma altura em que eu nem sabia que era possível desistir. A impulsividade que me é tão característica levava-me a comprar viagens em cima da hora, a pegar no carro e conduzir 300 quilómetros só para ver alguém de quem gostava, a comprar uma prenda cara sem hesitar. Mas nunca a desistir. No instante em que aprendi a desistir, nunca mais soube ficar. Fico até alguém ter dúvidas, até uma discussão, até uma bebedeira, até um momento estranho na conversa. Depois desisto, com a mesma facilidade e determinação, tenha passado um mês ou um ano. Olho para ele. Está tudo lá: o nó na garganta, a magia a fazer amor, rirmos juntos, a admiração, o carinho, o cinema, a música, as viagens, a sinceridade, a transparência, a vontade de deixar o hospital por uns anos, a incapacidade para o fazer, o gosto no que fazemos, a maneira como o fazemos, a relação com os doentes, a relação com a família, o sorriso, o corpo, as mãos, eu ao colo dele, ele dentro de mim. Olho para ele. Could you be the one for who I care? Não escolhemos a nossa família, namorados vêm e vão, os amigos ficam às vezes, e a família fica sempre. É assim que eu quero pensar e olhar para ele. Aprender, passados estes anos todos, a não desistir. A não ser mais um namorado que não vai resultar. A ser como família para mim. A million nights have led to this one that we are spending. And I know it's better here than anywhere I've been going, with every morning grew a void more wide and endless. Tudo vai e vem. Eu quero aprender a ficar. Com ele.

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