Ele cheira ao perfume que eu tenho vindo a conhecer tão bem nos últimos anos e que me sabe a noite, cigarros, álcool, sexo e praia. O encontro, desta vez, é acidental, algures entre o lounge e o incógnito, na rua inclinada da bica. Mas o início da conversa, esse é sempre igual, já parece ensaiado e eu, pessoalmente, acho-o aborrecido e encontro nessas primeiras palavras que trocamos de cada vez que nos vemos, a chave para nunca ter resultado entre nós:
ELE: Estás feliz?
EU: Sim.
ELE: Estás mesmo?
EU: Sim, estou.
ELE: De certeza?
EU: Estou mesmo feliz.
ELE: ...
EU: ...
ELE: Mesmo?
EU: Mesmo.
ELE: ...
EU: ...
ELE: ...
EU: ...
Sorrisos compassivos de parte a parte até que eu, enjoada com o diálogo à Paulo Coelho, acabo por acrescentar de forma peremptória, de quem não está disposta a trocar nem mais uma palavra sobre esse assunto ou sobre qualquer outro (a conversa nunca foi o nosso forte...). Estou mesmo feliz. Como nunca me senti antes. Estou mesmo bem. Enfantizo os mesmos e o nunca. Geralmente faço isso. São os meus pontos finais a uma conversa que me põe doente e que, por ele, sei eu tão bem, não terminará tão cedo.
Já passámos tantas vezes por isto. Consigo ver a discorrer à minha frente o resto da noite, que, como sempre, e apesar da química entre os nossos corpos, nunca tem um final feliz. Só que desta vez é diferente. Desta vez o filme pára a meio. Porque quando acabo de dizer aquilo tudo da boca para fora, reparo que, desta vez, não menti. Que estou bem, que me sinto mesmo bem. Com ênfase no mesmo. Por isso esta noite páro de beber umas cervejas mais cedo e venho para casa sozinha, a cantar Madame Godard, sentido-me verdadeiramente feliz.
Mesmo. :)
4 comentários:
Bravo! É tão bom conseguir quebrar correntes de círculos/ciclos viciosos/viciantes! viva o empowerment!
:)
Gostei. Ficaste por cima, levaste a melhor. Ele que se deixe de truques. Só faz falta quem está.
Obrigada... Mas, na verdade, neste caso específico, eu é que costumava ir ter com ele com truques... Ao invés de mim, ele sempre me tratou bem... Não é uma história de que me orgulhe...
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