Sinto-me como o muro de Berlim... depois de 1989. Feita em bocadinhos...
29 junho 2010
No jardim zoológico
- Então, diz lá à tia, que animal queres ver tu hoje?
- O porco.
- Não, querida, hoje é um dia especial! Podes ver um animal qualquer. Qualquer um que queiras! Girafas, tigres, leões, tartarugas gigantes, macacos... Qual é que queres ver primeiro?
- O porco.
- Mas, querida, o porco vês tu todos os dias no quintal do vizinho, e de graça. E nem ele devia ter um quintal com porcos e toda aquela bicharada em pleno bairro de Lisboa, mas tem e tudo bem, isso é outra história. Mas não há mais nenhum animal que queiras ver?
Ela pensa, e vê-se que está a pensar a sério, com toda a força, os olhos contraídos a ajudarem tanto pensamento. Ao que, passados uns instantes, responde muito séria.
- Galinhas. Quero ver galinhas.
Nunca... mas NUNCA mais trago a minha sobrinha ao jardim zoológico.
27 junho 2010
O que me põe doente
Pessoas que passam mais tempo a dizerem que são espectaculares do que a serem espectaculares.
Adenda ao registo anterior
Não deixar essa mesma criança tocar em ABSOLUTAMENTE nada até à noite, altura de a enfiar dentro do duche e esfregar todo aquele barro corpinho fora.
26 junho 2010
A resgistar
Não pôr protector solar factor 50 numa criança que esteja em directo contacto com os lençóis brancos imaculados da nossa cama. A não ser que se queira brincar aos homens das cavernas e à arte rupestre...
22 junho 2010
21 junho 2010
Estou aqui contigo, acho-te muito gira, não só fisicamente, mas também porque falas sem parar, sempre entusiasmada por tudo. Adorei esta noite, conversar, estar em silêncio, olhar-te, olhares-me, dançar contigo, sentir-te, beijar-te. Encher a casa com música que, a partir de agora, acabará por ser tornar inevitavelmente em mais uma recordação tua. E agora estou aqui, tu ao meu lado, nesta cama onde nenhuma mulher alguma vez se deitou sem que não tenha havido sexo. Quero-te, desejo-te. E nem me importo que não haja sexo, mas odeio-te porque nem sequer deixas que me apaixone por ti.
18 junho 2010
Última página
E assim, mais vale estar aqui, aguardar, e olhar para a colina. É tão bela. Hum... estou dividida. Esta frase é demasiado inocente. E como tudo o que é demasiado inocente, parece ter um lado obscuro assustador. Veremos. Vou arriscar :)
Próxima leitura
Umberto Eco - O pêndulo de Foucault. Pergunto-me se será a leitura mais adequada a esta fase da minha vida... Por outro lado, talvez me ajude a regularizar os hábitos do sono... Bom... pelo sim, pelo não, vou começar por ler a última página. Se encontrar indícios deprimentes, suicídios e coisas que tais, troco de livro...
16 junho 2010
Sabemos que alguém não é para nós
... quando se refere à cover dos Black Eyed Peas da música Misirlou do Dick Dale como a faixa número 10 da aula de spinning...
O que me põe doente
Sair de turno às 23h e apanhar trânsito na segunda circular como se fossem 5 da tarde.
Quando podemos e até queremos, mas dizemos que não
I've been out walking. I don't do too much talking these days, these days. These days I seem to think a lot about the things that I forgot to do and all the times I had the chance to. I've stopped my rambling, I don't do too much gambling these days, these days. These days I seem to think about how all the changes came about my ways. And I wonder if I'll see another highway. I had a lover, I don't think I'll risk another these days, these days. And if I seem to be afraid to live the life that I have made in song, it's just that I've been losing so long. I've stopped my dreaming, I won't do too much scheming these days, these days. These days I sit on corner stones and count the time in quarter tones to ten. Please don't confront me with my failures, I had not forgotten them.
15 junho 2010
Há vantagens no facto de o mundo não ser a preto e branco. Chaves dicotómicas, divisões em mal e bem, heróis e vilões, homens e mulheres, saudável e nefasto... São tudo soluções que facilitariam a nossa vida, em mim necessariamente diminuiriam o meu nível de ansiedade. Mas é bom... poder sentir este nó no estômago e este arrrepio por alguém que sei não ser o homem da minha vida. Algo que eu não posso nem consigo encaixar numa prateleira. Somente um borrão na parede que amanhã já é capaz de nem lá estar.
14 junho 2010
Qualquer estudante de saúde, algures durante o curso, acreditou piamente sofrer de aneurisma da aorta abdominal. Mas essa era a altura em que éramos magros e, por isso, a aorta palpava-se ou via-se mesmo a pulsar barriga fora. Hoje já lá vão 12 anos e mais 12 quilos e, por essa razão, surpreendi-me quando, a seguir a correr na minha passadeira de dondoca, deito-me no chão e dou de caras com ela, a aorta, a pulsar alegremente mesmo em frente ao meu nariz, que é como quem diz, mesmo abaixo do meu umbigo. Não quero parecer precipitada, mas acho que está na altura de me despedir. Adeus, mundo cruel.
Filmes vistos recentemente
Juan José Campanella - El Secreto de Sus Ojos. A mistura deliciosa entre as duas histórias e a amizade comovente entre os dois colegas. E, depois, claro, o suspense e o soco no estômago. Adorei.
Luca Guadagnino - Io sono l'Amore. Fisicamente bonito e exagerado. Uma ópera cinematográfica. Os diálogos são pobres, mas quando vamos à ópera, com todo aquele cantalorar geralmente numa língua estrangeira, mesmo com o libretto à mão, nem sequer os costumamos perceber, pois não?
Kelly Reichardt - Wendy and Lucy. Capta apenas um instante. Muito bonito e comovente.
Leituras recentes
Marguerite Duras - La Douleur. As páginas que a autora encontrou por acaso, como diz num pequeno prefácio do próprio livro, e que não se lembrava de ter escrito. "... uma fenomenal desordem do pensamento e do sentimento, em que não ousei tocar - e face a ela, a literatura envergonha-me.", nas palavras dela. O livro fala sobre o dia-a-dia de uma mulher que espera o marido, no pós-guerra imediato, sem saber se este se encontra vivo ou morto. Outros pequenos contos, fictícios ou não, seguem-se a essa primeira história. Fortíssimo. E, sobretudo, palpável. Como se estivéssemos lá a viver como personagens dos contos. Já tinha tido um sentimento semelhante quando li O Amante.
J.D. Salinger - Franny and Zooey. Um estilo inconfundível (digo eu que só li dois livros dele... este e o The Catcher in the Rye). Muito directo, seco, irónico, com um sentido de humor brilhante, sem lamechices, mas fazendo chorar as pedras da calçada. Neste livro a relação entre os vários membros da família, sobretudo sob o ponto de vista de dois deles, as suas dúvidas espirituais e as relações tipicamente disfuncionais que qualquer família tem e que esta tem de forma ao mesmo tempo dramática e cómica.
Fernando Pessoa na pele de Bernardo Soares - O Livro do Desassossego. O meu livro de cabeceira. Já o li e reli milhões de vezes e identifico-me com quase tudo o que diz e passo a vida a descobrir passagens novas. Para além do mais, é muito lisboeta. Cada vez que leio ou releio mais umas páginas, e salvaguardadas as devidas distâncias entre um tipo genial e... eu, chego sempre à mesma conclusão: é bom saber que não vou ser a única neurótica que esta cidade viu nascer, crescer e morrer.
07 junho 2010
03 junho 2010
Entraste em mim primeiro com os olhos, depois com os lábios, a língua, os dedos, as mãos e, por fim, com o corpo todo. Entraste em mim com a determinaçao própria de quem sabe que o que deseja lhe pertence. E desde aquele primeiro olhar, senti as artérias encherem-se de sangue e o coração a transbordar. Estava a acordar depois de um longo ano de ausência. Sabemos que a nossa capacidade para o bem iguala a nossa capacidade para o mal. Isso é trágico, porque nunca estamos a mais do que dois pensamentos de distância um do outro e, no entanto, não mais voltaremos a ser um só. Contudo, estou feliz. Ensinaste-me hoje que ainda sou capaz de amar. E depois de me começar a sentir, deixei de ter pressa.
01 junho 2010
Há luz sem lume aceso, mas sem amar o calor
Passaram-se 6 anos e ainda me lembro do nó na garganta que senti quando acabei pela primeira vez uma relação. Não sabia, na altura, que me viria a apaixonar várias vezes e que, várias vezes, voltaria a sentir esse nó na garganta, com o terminar de outras relações.
Mas desta vez foi diferente. Invadida pelo vazio de não sentir nada, chorei. E ele, sem perceber, Desculpa. Numa só palavra, a distância que nos separava. Quis dizer... Estás a perceber tudo mal, eu é que peço desculpa. Quero aquele nó na garganta, quero ver-te longe, odiar-te. Quero saber que ainda sou capaz de amar e de morrer de amor. Quero morrer de amor. Quero saber que te amei. Que não estive contigo só para não estar sozinha. Que não foste para mim só um amigo. A dedicação que eu posso ter por um amigo pode, de facto, e fê-lo por diversas vezes, impressionar, mas não arde e não dói, não faz cicatriz, não arrisca e também não explode de alegria num fogo-de-artifício de emoções. Eu, no passado, abdiquei desse amor, exactamente por doer tanto. E agora fiquei vazia. Tão vazia, que nem o nó na garganta sinto, na hora de, uma vez mais, dizer adeus.
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