... mas com menos espuma, infelizmente...
30 dezembro 2012
29 dezembro 2012
28 dezembro 2012
Trabalhar é difícil porque não trabalhamos sozinhos. Trabalhamos com as nossas inseguranças e o nosso cansaço e também com as inseguranças e o cansaço dos outros. E com imensos mal entendidos. Trabalhamos com o banco da véspera, o trabalho desse dia e o banco do dia seguinte. Trabalhamos com as crianças que não conseguimos tratar e com a dor dos pais dessas crianças. Trabalhamos com as expectativas e os medos de tantos outros pais. Trabalhamos sem perspectivas de ter contrato. E trabalhamos sem expectativas de amanhã ser melhor, de amanhã ser mais fácil, de amanhã haver fim-de-semana, feriado, folga ou Natal.
27 dezembro 2012
Passo os dedos pelas teclas do piano. Sinto-lhes o frio e o peso. Começo por tocar uma notas aleatoriamente e depois dou início a um dos exercícios básicos do Hanon, 'o pianista virtuoso'. Eu de virtuosa, infelizmente, tenho pouco. Os meus dedos estão trôpegos e rígidos e atropelam-se uns anos outros descompassadamente. Depois, devagarinho, vão aquecendo. Abro então o livro Anna Magdalena Bach. A minha aprendizagem nos últimos 17 anos foi nula para não dizer negativa. Ainda assim, arrisco uma das pequenas peças, a última do livro, que eu sempre toquei com tanto amor. Fico admirada por os dedos ainda saberem tocar a partitura que os olhos, destreinados, deixaram de conseguir ler. Sinto a melodia de que gostava tanto a encher a casa e fico feliz por saber que deve ser das primeiras músicas a chegar até ti. Quando mais tarde vou buscar o metrónomo (nunca fui muito dotada de ritmo), acabo por descobrir a minha antiga máquina fotográfica e ponho-me a fotografar o piano. Fico feliz por a máquina ser manual e obrigar-me a gastar tempo naquela tarefa de olhar o piano. Já é noite e, por mais que aumente o tempo de exposição e a abertura da lente, o sinal à esquerda desta continua a assinalar a luz amarela juntamente com o sinal de menos a vermelho. Mesmo assim, disparo uma vez. E depois mais outra vez. Quando mandar revelar as fotografias vou saber como ficou guardado, o primeiro momento em que soube de ti. Até lá, vou tocando a tua música.
24 dezembro 2012
Recentemente visto...
The Perks of Being a Wallflower, de Stephen Chbosky (2012). Por falar em miúdos do Harrry Potter... Apesar de não ter achado o filme fabuloso e talvez por ter ido sozinha vê-lo, envolvi-me e gostei muito.
Recentemente visto...
Anna Karenina, de Joe Wright (2012). Mais uma versão do romance de Tostoi, desta vez com uma realização diferente e deliciosa, a lembrar um palco de teatro. Dos actores, gostei especialmente do Jude Law, claro, e do Domhnall Gleeson, o miúdo ruivo do Harry Potter, que está excelente.
Recentemente visto...
Amour, de Michael Haneke (2012). Desconfortável, como seria de esperar, mas gostei. Os actores estão excelentes.
09 dezembro 2012
Lembro-me de pensar que eu teria sido sempre eu, independentemente de como se tivessem passado os eventos antes da minha existência. Suponho que seja um sentimento comum nas crianças. Era-me totalmente alheio o facto de eu, tal como me conhecia, ser, como de resto todos nós, apenas o resultado de uma sequência incontável de incidentes totalmente improváveis. Antes de começar a namorar o meu pai e ao mesmo tempo recusar a proposta de namoro de um outro pretendente, a minha mãe percorreu 300 quilómetros de comboio do Algarve até Lisboa. Ao ver o meu pai, dissipou qualquer dúvida que ainda pudesse haver sobre o seu futuro e, abreviando a história, uns anos depois nasceu primeiro a minha irmã e depois eu. Duvido que esta viagem de comboio tenha decidido o que quer que fosse. A minha mãe, consigo adivinhá-lo, apaixonou-se tragicamente pelo meu pai no momento em que o viu pela primeira vez. Tê-lo visto pela primeira vez, isso sim, foi um acaso ou, mais uma vez, o resultado de todo um conjunto de acasos. Eu ouvia esta história e tinha a certeza que, mesmo que a minha mãe tivesse escolhido o outro pretendente, de quem eu nunca soube o nome, eu teria ficado no meu lugarzinho no céu à espera de me materializar e tê-lo-ia feito no mesmo dia, no mesmo mês e no mesmo ano que fiz tendo o pai que tenho. Teria tido os mesmos olhos, as mesmas bonecas e os mesmos professores na escola. Teria tido um pai diferente, apenas isso. Esta minha sensação de sentir a minha vida garantida independentemente de tudo o resto, estendia-se a outra encruzilhada amorosa na minha família. Aos 24 anos o meu avô ficou noivo. Pouco antes do casamento, a noiva foi consolar umas tias tuberculosas que se tinham mudado para a Serra de Monchique onde se dizia que o ar fresco fazia maravilhas ao bacilo de Koch. Infelizmente para os noivos, a única maravilha que a serra fez por eles foi separá-los. A noiva morreu e o meu avô passou a andar com uma arma no bolso, que acabou por atirar ao rio Arade meses mais tarde, decidido a sobreviver à dor, vir a conhecer a minha avó anos mais tarde e, assim, dar continuidade à história da nossa família. Eu romantizava tanto a história da noiva tísica que cheguei a achar que, se acaso tivesse havido tuberculostáticos na altura, ela ter-se-ia curado, a minha mãe teria nascido e teria tomado à mesma aquele comboio.
05 dezembro 2012
Em vez disso, fui buscar os meus sobrinhos à escola. Levei o carro da minha irmã, que de outra forma seria impossível encaixar os três no banco de trás. Foi catastrófico. Primeiro não queriam sair da escola. As crianças não têm pressa, isso é coisa de adulto. Muito menos têm pressa para a sequência banho-jantar-dentes-história-e-cama. Nós temos especial pressa para essa sequência em particular. Após meia hora, lá me consegui arrastar com um a chorar e a cair do braço direito, outra pelo braço esquerdo, a terceira ligada pela mão à segunda, as mochilas no chão e eu a berrar para afastar os carros. No topo disto ainda a T. 'Agarra no casaco, tia, agarra no casaco!' Eu nem no casaco e mal neles. Lá os meti no carro com dois deles a chorar. Em casa ja foi mais fácil. Meu Deus. A minha irmã faz isto todos os dias.
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