27 setembro 2010

Subiram a rua que sobe da Musgareira para Camarate. Subiram pela estrada, que ali não existem passeios, e só pararam no alto, onde a curva da estrada se dissipa numas casinhas clandestinas. Lá em cima, para lá da cortina de arame farpado, estendem-se ao comprido quilómetros de pistas para serem percorridas por quem sabe voar. Ele explicou-lhe de onde vinham os aviões que aterravam e para que lado levantavam vôo. Explicou-lhe: amanhã partirás dali e daqui a 15 dias virei ver-te a regressar dali, dali mesmo. E, no dia seguinte, ela partiu. A viagem foi uma mistura de sono, pescoço dorido e números primos. Na alfândega sentia-se tão bem e apaixonada que esperou os 45 minutos sem se queixar, ouvindo o álbum dos Morphine e lendo o seu livro. Estava tão relaxada que se sentiu a flutuar por entre as centenas de pessoas que esperavam nas 10 filas da alfândega e não se importou que lhe tivessem passado à frente. No comboio meteu conversa com um padre e à porta da estação, ainda a ler, esperou pelo amigo sem pressa. Ele estava igual, afinal só tinham passado três meses. Abraçou-o com saudade e beijou-lhe a face esquerda. Nessa noite assistiram a um teatro à beira-rio através de uma cortina e puseram a conversa em dia. No dia seguinte, o amigo foi trabalhar e ela correu pelas ruas de Filadélfia, passando por gente, portas e ruas que até então só tinha visto em filmes.

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