30 março 2014
O M. há de vir ainda durante a Primavera, como já uma vez eu vim e também o pai, a tia, ambas as avós e todos os anos as flores. Lá fora está frio e chuva, mas as olaias pelas ruas parecem anunciar já a sua vinda. Ultimamente o calendário gira à volta dele. Os meus anos serão às 34 semanas e seis dias, a minha irmã vai estar em Nova Iorque das 36 até às 37 e o teu exame será às 37 semanas e três dias. Os primos estão felizes. A mais velha suspeita que talvez não seja um bebé que eu trago nesta barriga enorme, mas os mais novos não têm dificuldade em acreditar em bebés dentro da barriga, porque o pensamento mágico é ainda muito poderoso nesta idade e realmente não há forma nenhuma de viver esta experiência sem se acreditar em magia. Depois de um início inseguro, preparo agora a vinda dele, enquanto tu me olhas divertido. E não parece ser possível haver algo mais maravilhoso no mundo do que estes dias a três.
13 março 2014
Até agora associei os papo-secos à minha avó. Sempre disse papo-seco. E não foi por opção. A verdade é que só conheci as carcaças na faculdade. Até o cão da quinta da minha avó era o papo-seco, um cão pequeno, beje, com ar deslavado, um pouco gordinho e muito rafeiro. O papo-seco. Já morreu, claro... Os papo-secos pertenciam, como tantas outras coisas da minha infância, ao Verão. Durante as férias de Verão, eu queria desesperadamente comer fruta doce e suculenta, onde se encaixavam as uvas, o melão, a meloa e a melancia, fruta impossível de comer durante o resto do ano. Queria comer carapaus assados (assados pela minha avó, que os fazia muito bem), salada de tomate, massa de peixe e pão de S. Marcos. De todas estas iguarias de Verão, o pão de S. Marcos era a minha preferida. A minha avó comprava o pão logo de manhã na praça, mas fazia-nos esperar até à hora de almoço para o comermos. Pesado como era e dado o risco de congestão, patologia que eu nunca encontrei nos tratados de Medicina mas que todos sabemos como é querida aos portugueses, era impensável comer este pão antes de ir para a praia. Porque a minha avó sabia que no instante em que chegávamos à praia, corríamos em direcção ao mar. E era aqui que entravam os papo-secos. Pão leve, sem risco de provocar congestões em crianças impacientes por saltar para dentro de água, era o pão ideal para o pequeno-almoço. Não valia a pena discutir. Não é que eu não gostasse de papo-secos, só que sempre foram uma segunda escolha em detrimento de uma primeira espectacular. Recentemente em Armação de Pêra desapareceu o pão de S. Marcos, pelo menos aquele que se vendia na praça pela mesma senhora há 40 anos. Não sei porquê. Se calhar morreu, a senhora que vendia o pão ou o senhor que o fazia. Se calhar morreu o senhor que fazia o tranporte, porque se há pão que era certamente levado numa única carrinha de caixa aberta pela serra algarvia, era o pão de S. Marcos. Não sei. Provavelmente ninguém morreu e alguém foi à falência. Enfim… Acabou-se o pão de S. Marcos e eu voltei-me outra vez para os papo-secos. Na varanda com o P. e o M. ainda na barriga, a comermos papo-secos frescos da praça e a olharmos o mar mesmo em frente, é difícil imaginar pão mais tenro e saboroso e memória de papo-seco mais doce.
12 março 2014
07 março 2014
Recentemente vistos...
Já que não posso fazer mais nada, vejo filmes… Bom, há pior!!
American Hustle de David O. Russell (2013). Não adorei, mas gostei.
Nebraska de Alexander Payne (2013). Está querido, gostei muito. Dos vários filmes deste realizador, não sei mesmo se não foi este o meu preferido.
Her de Spike Jonze (2013). Gostei de várias coisas no filme: das cores, da música, da interpretação do Joaquin Phoenix e do próprio personagem principal, que é delicioso. Gostei da relação deste com a ex-mulher, com a amiga e com o rapaz do escritório. Adorei as cartas de amor e identifiquei-me com várias questões colocadas durante o filme. Contudo, não consegui simpatizar com a relação com o sistema operativo, penso que por dois motivos principais: 1) é um sistema de software 2) a voz da Scarlett Johansson, que eu gosto muito porque é sexy e relaxante, é-me demasiado familiar; é-me impossível abstrair o suficiente para imaginá-la sem corpo como ela insiste em dizer durante o filme todo que não tem. Por este último motivo, o filme acabou por não funcionar para mim.
Gravity de Alfonso Cuarón. É difícil de acreditar que este tenha sido também o realizador de Y tu mamá también (2001) e de um dos filmes do Harry Potter. Um realizador eclético, portanto. Em relação ao Gravity, confesso que tenho dificuldade em comentar filmes cujo tema não me interessa. Talvez seja um bom filme, não sei. Não é por mal, a sério, mas mal consegui ver até ao fim.
August: Osage County de John Wells (2013). Este seria mesmo o meu tipo de filme, mas acabou por também não funcionar muito bem para mim. Não sei porquê. Muitos anos a ver a Julia Roberts a fazer filmes tontos, talvez. O Ewan McGregor com apenas duas frases. Algum embirranço crónico em relação à Meryl Streep. Enfim, nada de racional.
Rincón de Darwin de Diego Fernández (2013). Está simpático, gostei. Gosto do estilo road movie e gostei dos personagens. E a narração do diário do Darwin, com aquele sotaque britânico a contrastar com tudo o resto, está demais.
The Broken Circle Breakdown de Felix van Groeningen (2012). Gostei bastante, mas é muito angustiante.
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