28 novembro 2012

Hoje foi assim...




O acordeão leva-me para aquela tarde em casa dela tão gira e feliz, ao mesmo tempo que triste, a tocar a concertina. Era de repente a Amelie lá na sala e o gato a fugir para detrás do cortinado. O Neil Hannon a cantar também a música da Amelie e a voz dele a encher a sala, o coliseu, Lisboa inteira. E de repente estou a entrar na basílica, a voz da solista a encher aquele espaço maravilhoso e o meu coração a transbordar, os olhos a transbordar. O meu pai nervoso a mandar piadas e demasiados olhos sobre nós. Ele elegante, à minha espera, com a gravata azul clara. 'Tia, qual é a tua cor preferida?' Demos o nosso primeiro abraço na primeira noite em que fomos sair, junto ao carro, uma abraço à chuva e ao frio, porque já nessa altura os nossos corações transbordavam e não podiam esperar por estar perto apertados nesse abraço. E de repente, estou a reviver a noite de sábado e vejo-os os dois a dançar felizes, os seus corações a transbordar também. E sinto-me tão feliz que os olhos se enchem de água. 'Porque é que tens de viver a vida tão intensamente?' 'Não sei. Só consigo viver a vida desta forma exagerada.' 'Do whatever is coming naturally, Cathy.' 'Se pudesses tomar um comprimido que mudasse a tua orientação sexual, tomá-lo-ias?' Estamos sentados na Estrela da Bica, um dos nossos restaurantes preferidos. Eu acho a pergunta estúpida mas para minha surpresa ele responde que sim. E, por mais óbvio que seja, só agora me apercebo da dificuldade que é ser diferente de uma maioria maioritariamente intolerante. 'Do whatever is coming naturally, Cathy.' Ele no palco, fatinho preto, camisa branca, muito elegante, muito bonito, as luzes e os violinos por detrás, a noite a estender-se até nós dois, aqui na cama, juntos. 'Just to be together is good enough for me, Cathy'

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