30 março 2012

Limiar para faltar a um dia de enfermaria quando há mais pessoas a ajudar: febre. Limiar para faltar a um dia de consulta: internamento hospitalar ou a morte de um familiar próximo. Limiar para faltar a um dia de banco: morte ou coma.

29 março 2012

Na esquina da rua que vai dar à escola da minha sobrinha, há um alfarrabista. A loja é deliciosa; todas as paredes estão forradas de livros literalmente do chão ao tecto e mesmo as janelas têm livros a emoldurá-las, o que faz sombra para dentro da loja. Para além do mais, o espaço é grande, estendendo-se ao comprido por três salas. O senhor alfarrabista é, pelo menos, tão velho como alguns dos livros e também bastante surdo, o que faz com que as nossas conversas sejam habitualmente absurdas. Como não é particularmente simpático, culpa-me a mim pelos rumos desviados da conversa e eu acabo invariavelmente a rir. Gosto de ir lá, claro. E gosto do velho antipático e surdo. O preço em cada livro está marcado em escudos, habitualmente um preço ridículo, tipo 300 escudos ou 10 escudos e em baixo, mantendo a tradição, e portanto a lápis, o preço em euros, resultado de alguma reavaliação mas ela também já antiga, porque de forma geral os livros são todos muito baratos. Hoje andei com os olhos e os dedos por edições esgotadas do Augusto Gil, poeta preferido e amigo do meu avô. Duas dessas edições tinham ilustrações tão bonitas que eu tive de as comprar. Agora tenho os livros na mesa de cabeceira e comovo-me em cada página, não pela poesia em si, mas pelo velho alfarrabista, pelas edições esgotadas e pelo meu avô.
Só vejo duas maneiras lógicas de passar pela vida: como vítima ou como comediante...

26 março 2012

No dia 20 de Março começou... o Verão...

22 março 2012

Recentemente visto


Fish Tank, de Andrea Arnold (2009). Perturbador, no mínimo. Gostei muito.
De cama doente. Pela terceira vez este ano. Os três episódios são claramente de natureza viral e não teriam a mínima importância, até porque os dois primeiros calharam respectivamente nas férias e num fim-de-semana, se não tivesse sido pelo facto de me ter convencido previamente a estes três episódios de que tinha um linfoma e tais síndromes gripais abalarem a minha confiança face à exclusão definitiva desse diagnóstico terrível, apesar das análises que fiz na altura da raiz do cabelo à ponta da unha terem excluído nem uma anemia que fosse. A culpa inicial do linfoma foi, na verdade, do edredon. Quando éramos miúdos, os cobertores eram pesados, tínhamos de os empilhar uns sobre os outros e mesmo assim passávamos frio nos primeiros minutos em que nos enfiávamos na cama, a não ser que os lençóis fossem de flanela ou tivéssemos um saco de água quente. Agora os edredons são leves, mas potencialmente tão quentes que podíamos dormir ao relento no Inverno e ter calor. O linfoma veio, portanto, do edredon. Desde Dezembro tive suores nocturnos de tal maneira que tinha de trocar diariamente o pijama e os lençóis da cama a meio da noite e, apesar de não ter linfadenopatias e de andar na melhor forma física de sempre desde que me conheço, dois meses depois de tanto suor nocturno conclui finalmente que estava gravemente doente. Depois disso foram as análises, o alívio, o edredon e agora de cama pela terceira vez em menos de mês e meio.

Talvez por ter estado tantas vezes doente ultimamente, tenho andado particularmente pensativa, que é como quem diz, neurótica. Olho à minha volta no hospital e espanto-me, não por eu ser neurótica, mas por mais ninguém o ser ou aparentar ser. Todos parecem satisfeitos com conversas desinteressantes, justificações ridículas das razões pelas quais são vítimas e boas pessoas, conversas sobre temas dos quais falam sem saber e sem sequer querer ouvir e ninguém se questiona sobre o que andamos por aqui a fazer, qual o sentido da vida, da morte, da mediocridade senão científica, pelo menos moral. Ninguém se questiona sobre os doentes que não conseguimos tratar em idades tão jovens, o sentido dessas vidas que não conseguimos salvar, não de velhinhos preenchidos com uma vida cheia de seja o que for, mas de crianças e pais vazios, roubados do que mereciam ter e do que de resto tantos outros parecem usufruir com tanta facilidade. Espanta-me que os meus colegas fiquem contentes só por terem oportunidade de discutir guidelines ao almoço. Não é uma crítica que lhes faço. Sei bem que me apaixono por assuntos bem mais supérfluos do que as guidelines. Apaixono-me, aliás, bem mais frequentemente pelo supérfluo do que pelo profundo. E, assim, passo metade do meu tempo a sofrer com dúvidas existenciais e a outra metade maravilhada com esses pormenores supérfluos de que falo, pormenores por todo o lado: na natureza, nos outros, nos momentos, nas músicas, nos filmes, nos livros. Mas também pormenores simplesmente ridículos, esses também me encantam: o prazer de cortar as unhas, usar fio dentário, comer aquele leite creme, tomar um bom banho, rir-me de determinada piada vezes sem conta. O único sítio onde eu passo pouco tempo é mesmo aqui na terra com os pés assentes onde os têm os meus colegas e aborreço-me com facilidade e cada vez com menos inibição social não disfarço o meu aborrecimento, o que é um handicap péssimo no trabalho. O tempo que passo a viver a mesma realidade que os outros vivem é apenas o suficiente para me permitir sobreviver, manter o meu trabalho, aprender algumas coisas. Ao mesmo tempo, nunca fui tão feliz e me senti tão preenchida na minha vida amorosa e sei que é esse amor e o amor pela minha família e pelos meus escassos amigos que dá sentido à minha vida e me impede de cair num estupor que de resto seria absurdo. Mas tudo o mais, não consigo explicar e isso incomoda-me. Entretanto, vou lendo livros que alimentam as minhas angústias, ao mesmo tempo que me consolam porque me sinto menos sozinha nas minhas dúvidas existenciais. O último desses livros foi As Palavras, de Sartre. Uma análise autobiográfica, escrita aos 60 e picos de idade, da sua vida... até aos 12 anos. Até aos 12 anos... Eu tinha lido O Existencialismo é um Humanismo, porque era leitura obrigatória no secundário, pelo menos na escola que frequentei. Gostei muito do livro na altura, mas claramente estava noutra. Fui  uma  adolescente feliz e inocente e todas as dúvidas sobre a vida vieram já depois da faculdade e atingiram-me como uma bomba na forma de ataques de pânico. Essa fase aguda passou, mas ficaram as dúvidas. Agora ao ler As Palavras, vou-me identificando com uma série de reflexões e análises que eu própria seria incapaz de fazer sozinha, mas que me é fácil reconhecer e me identificar com elas n'As Palavras.

18 março 2012

O passeio de bicicleta hoje foi assim...



20 quilómetros assim... Depois de ter feito saltar a corrente para um lugar de não retorno, ainda consegui espatifar duas vezes a outra bicicleta, ao ponto do meu namorado me perguntar se eu estava a fazer de propósito. Eu acho que era alguém a enfiar agulhas nos pés de um boneco vodu com a minha cara. Em todo o caso, o passeio soube bem e chegar ao carro aquecido a 26ºC foi maravilhoso. Em casa, um lanche hipercalórico curou os joelhos esfolados e agora já sei: a próxima bicicleta que comprar vai ter de ser à prova de Sofias. 

15 março 2012

Esta segunda-feira foi assim...

Thanks :)

Tudo começou quando o irmão do P. nos ofereceu cerca de 20 quilos de lenha que nós aceitámos felizes e sem hesitar como se se tratassem de 20 quilos de barras de ouro. Isto foi antes do P. trocar de carro e por isso a lenha encheu toda a bagageira mais um dos bancos da frente do Smart, deixando apenas um pequeno espaço para o condutor. O condutor tive de ser eu, claro, porque pequeno e P. são conceitos que não se coadunam um com o outro. Depois de ter ocupado o Smart, os 20 quilos de lenha passaram para dentro de um carrinho de supermercado que ficou, cheio até ao tecto, à porta de casa. A situação era suposto ser temporária, mas a cave é demasiado húmida para guardar a lenha e em Lisboa tem estado um calor de morrer, perfeitamente inadequado para o acender de lareiras. No entanto, como é  esteticamente ridículo ter um carrinho de supermercado à porta de casa, decidimos apesar de tudo acender a lareira. Passámos a noite de t-shirt e janelas abertas, tal era o calor, admirando a nossa linda lareira que já não usávamos desde o Inverno anterior. No dia seguinte, apareceu uma nota no elevador dos nossos vizinhos de cima, pedindo para não voltar a  usar as lareiras por causa de um problema do condomínio.  Conclusão: carrinho de supermercado cheio de lenha é para conservar à porta de casa até ao próximo Inverno.

Shame, de Steve McQueen (2011). Gostei muito. Fica agora por ver o filme Hunger, do mesmo realizador (2008).

07 março 2012

Os maiores!! :)

Recentemente o tempo ficou mais comprido. As horas estendem-se amavelmente em frente à lareira e podemos na mesma noite fazer amor, correr, ver um filme e ainda ler umas páginas do livro antes de os olhos se fecharem para dormir. Não sei quem parou o tempo por nós e para nós. Alguém a abrir gavetas para o amor acontecer. E acontece. Noites de minutos compridos e tão nossos.

06 março 2012

Ando feliz a explorar as aplicações do iPhone e a concluir que, de facto, este só pode ser o melhor telemóvel do mundo. Devo estar na cauda de pessoas que fizeram esta descoberta e, se não fosse o meu namorado, provavelmente ainda não tinha descoberto nada (Sofia, sempre um passo atrás...). Felizmente que, das milhões de aplicações disponíveis, só tenho de me concentrar nas milhares delas que se debruçam sobre cinema, fotografia e música. Depois de vários dias de pesquisa, sinto que posso finalmente parar. Já tenho a câmara de filmar Super 8 :)


05 março 2012

Vistos recentemente...



Drive, de Nicolas Refn (2011). Gostei. Da música, da fotografia... das letrinhas a cor-de-rosa e bold no início à série dos anos 80 :)... Gostei.



Carnage, de Roman Polanski (2011). Bullying no mundo dos adultos. Muito cómico. E os actores estão muito bem. Gostei.
Até o conhecer, não gostava de Cat Power porque, à conta dela, tinha tido uma das piores discussões da minha vida. Nessa noite humilhei e fui humilhada e antes da madrugada chegar, já a jovem linda e lânguida  figurava no topo da minha lista negra. Agora ao colo dele a música ganha um novo significado, condiz com a estrada, condiz com o entardecer e condiz connosco.

04 março 2012

Vistos recentemente...


Young Adult, Jason Reitman (2011). Fazemos parte de uma geração em que nada nem ninguém nos obrigou a crescer. Continuamos a achar que temos 18 anos, mas ao tempo que já passámos dos 30. E todos conseguem ver isso menos nós. Gostei muito. O realizador e a argumentista (Diablo Cody) são os mesmos do filme Juno (2007). Uma boa dupla :)




O que os meus sobrinhos mais gostaram da Serra da Estrela, foi o jardim infantil de Almeirim...