Vale o que vale, eu sei. Mas são casais pelos quais sinto algum carinho. Numa introdução do livro The Picture of Dorian Gray (edição da Oxford University Press) o Oscar Wilde afirma The only excuse for making a useless thing is that one admires it intensely. E acrescenta All art is quite useless. Eu sou especialista em apaixonar-me por assuntos inúteis incluindo o meu pequeno mundo cinematográfico: as personagens, as imagens, os diálogos, as músicas... companhia para conseguir fazer as coisas úteis do dia-a-dia. Em pequena eu encenava pseudo peças de teatro da minha autoria, declamava poesia de João de Deus, Augusto Gil, Almeida Garrett e António Gedeão, imitava o Bryan Adams a tocar guitarra e tinha um programa de rádio que gravava em cassetes com o nome de Girassol. Não penso que esteja a exagerar quando digo que consigo resumir grande parte da minha infância e adolescência com esta última descrição. Aquando das minhas perfomances, mãe, pai e mana sentavam-se no sofá verde e batiam palmas. Eu adorava aqueles momentos de glória. Treinei a valsa de agradecimento, treinei os sorrisos. Mas a maior parte do tempo, mesmo na altura em que media metro e meio de altura, sempre fui eu a espectadora. Eu sentada no sofá verde em frente à televisão a assistir às encenações de outros. Eu sentada no sofá verde a bater palmas. E mais tarde a ir o cinema, a ler sobre os realizadores, a ver os behind the scenes. Apaixonada por qualquer mundo que não fosse o meu, ou melhor, que fosse exactamente o meu, mas que estivesse exposto de uma maneira mais bonita, mais cinematográfica. O Wim Wenders é especialista nisso. O Terrence Malick também. E o Wes Anderson, claro. Por diferentes motivos, estes dez casais entraram no meu mundo, todos com algo positivo a acrescentar à minha vida.
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