Ao contrário da maior parte das avós, a minha não sabe cozinhar lá muito bem. Quando se casaram, terá sido o meu avô a ensinar-lhe a estrelar um ovo. Essa é pelo menos a versão do meu avô, que ele gostava de contar amiúde sempre com uma sincera gargalhada a rematar a história. Com o tempo porém, ela especializou-se e bem em três pratos apenas: sopa de feijão, peixe assado na grelha e bacalhau no forno. Para o meu avô, que era algarvio, estes três pratos eram o suficiente para considerar a esposa a melhor cozinheira do mundo e nunca mais o meu avô lhe ensinou o que fosse na cozinha, limitando-se nesse campo a limpar a louça e a arrumá-la no armário após cada refeição. Nunca lavou a louça, porque a minha avó se enervava com o desperdício de água e detergente. O cheiro a carapaus vem do outro lado da esplanada e eu faço as contas ao tempo que passou desde a última vez que comi carapaus assados pela minha avó e penso para com os meus botões que nunca serei a melhor cozinheira do mundo, nem aos olhos do P. Se ao menos já tivesse escrito as receitas da minha avó... Talvez amanhã, quando lhe for entregar o convite de casamento, possa fazer isso. Avó, vou casar... Ensinas-me a fazer bacalhau no forno?
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