21 setembro 2023

Vi o filme O Estado das Coisas, do Wim Wenders (1982). Lindo. Adorei. Comoveu-me que Lisboa e Sintra no filme sejam ainda a Lisboa e a Sintra da minha infância, entretanto quase perdida para os turistas e para os nómadas digitais. O filme é todo lindíssimo, não só pelas imagens belíssimas, mas também por aquela súbita e forçada paragem no tempo, que obriga os personagens, cada um à sua maneira, a matar lentamente o tempo. Que bonito a intimidade com que esse 'matar o tempo' está filmada. Bonito também e tenso é o pressentimento de fatalidade que paira durante todo o filme no ar. Em defesa do seu filme, da beleza das filmagens a preto e branco, da sua história, dos actores que contratou, está o realizador. Só ele não desiste. Só ele é capaz de atravessar um oceano e enfrentar o perigo para encontrar o produtor desaparecido e, assim, poder finalmente terminar o seu filme. Por fim, um desfecho magnífico. Na cena final, o realizador a empunhar a câmara de filmar como uma arma contra um assassino não visível, fez-me lembrar a Rainha Dona Amélia a bater no regicida com o ramo de flores. Trágico. Belo. Obrigada, Wim Wenders, por estes e tantos outros filmes, entre os primeiros da minha lista infindável de filmes preferidos.