06 março 2022
Antes que me esqueça, revi o L'Avventura do (Michelangelo) Antonioni (1960), a propósito do triste falecimento da Monica Vitti.
Foi um filme que vi pela primeira vez na faculdade, numa altura em que andava a explorar os filmes do neo-realismo italiano e o conjunto de filmes que se seguiu a esse período. Foi uma altura muito especial para mim, de absoluta admiração e fascínio pela sétima arte.
Tinha-se aberto uma janela para um mundo, que era, nessa altura, novo para mim, um mundo de preocupações sociais e individuais, com as quais nunca tinha tido, até então, que lidar, nem directa, nem indirectamente. Quando o meu maior trauma na infância, era ser deixada durante breves minutos na fila do supermercado, enquanto a minha mãe ir buscar o leite de que se tinha esquecido, já se vê que fui, realmente e durante muito tempo, poupada a qualquer tipo inquietação. Em breve, ver-me-ia eu própria forçada a ver e a viver situações emocionalmente difíceis, mas na altura em que vi o L'Avventura, ainda vivia serenamente despreocupada.
O poder da imagem também me encantou, não só a capacidade da sétima arte de transmitir mensagens significativas, como a própria beleza das imagens em si: as mulheres, os homens, as paisagens, naturais e urbanas, sentimentos e lugares fatidica e magicamente entrelaçados. Tudo filmado da forma mais bela possível: desde a expressão de uma actriz, à curva de uma estrada.
Recentemente, com a minha máquina gigante a tiracolo, tento também eu capturar momentos de beleza inspiradora: situações, edifícios, lugares e, sobretudo, momentos e sentimentos das pessoas que me são próximos e que, abusadoramente mas ternamente, gosto de chamar os meus.
Soube-me tão bem rever o L'Avventura, que me pareceu um excelente ponto de partida para recordar e deixar registado os filmes que, nos últimos anos, mais apreciei e que me encheram daquele fascínio encantador que senti, outrora, como agora, a ver os filmes do Antonioni.