07 agosto 2014

Três meses

Dizem que os bebés têm dificuldade, nos primeiros meses, em perceber que já não fazem parte da mãe. Não sei como percepcionou o nosso filho até agora o seu corpo e o meu, a sua existência e a minha. Eu sei que tive dificuldade em perceber que ele já não fazia parte de mim. Do ponto de vista psicológico, claro, mas também, e até de forma pertubadoramente concreta, do ponto de vista físico. Ele no meu colo e eu com dificuldade em perceber se a barriga a fazer barulho era a dele - ou seria a minha? O suor entre nós - a quem pertenceu? A dor dele no primeiro mês foi também a minha. A alegria dele, a minha. Uma ilha paradisíaca? Não, provavelmente usaria outra metáfora. Os salteadores da arca perdida. Uma aventura extraordinária. Tumultuoso, entusiasmante, caótico. Avassalador. Emoções muito intensas. Muito variadas. Muitas dúvidas. Um amor por ele e por ti que rebenta neste meu coração pequeno, tão pouco habituado a amar... até agora. Tudo diferente. Tudo novo. Algumas lágrimas. Muitas de felicidade. Muitas de cansaço. Saudades de ser mais egoísta. Correção: saudades de poder ser mais egoísta. Precisar do meu espaço. Já não saber como entretê-lo. Tantas saudades do seu calor e do seu peso junto ao meu peito ao final de duas horas no colo do pai aos sábados de manhã. O verdadeiro medo da morte. Não poder morrer sem antes o ver crescido, ele próprio com filhos e netos. E, por fim, ou no início de tudo, a sensação de ter feito algo verdadeiramente mágico. Contigo. Sem varinha. Só com amor. Feliz primeiros três meses de vida, meu amor.