Os palhaços deixam-me desconfortável, pela evidente falta de sentido de humor, pela constrangedora falta de sentido estético e pelo ruído, que é muito incomodativo.
(Também por causa do livro do Henry Miller, O Sorriso ao Pé das Escadas…)
No meu hospital, os palhaços visitam semanalmente as crianças internadas. Do meu gabinete, ouço o seu estardalhaço seguido do riso das crianças. Suspiro. O riso das crianças amolece o meu sentido crítico e acabamos por saír todos juntos para o refeitório. Ainda assim, desvio os olhos, mantendo o meu lema ‘Palhaços? Hoje não, obrigada.’
Inesperadamente, um deles, ainda vivendo em pleno a sua personagem, comenta, cavaquinho nos braços, ‘Vou tocar uma música que vai gostar. Tenho a certeza que vai gostar.’
Escadas abaixo, com toda a calma do mundo, começa a dedilhar Nantes, de Beirut.