24 setembro 2024

Grand Tour




Hoje fui ao cinema ver o Grand Tour, o último filme de Miguel Gomes, realizador premiado este ano em Cannes com o prémio de melhor realizador. Já há vários anos que gosto dos filmes dele e estava curiosa para ver este filme em particular.

Gostei muito do filme. Adorei a história, a maneira como são misturados, como em outros filmes anteriores dele, tantos pormenores deliciosos, cómicos, bonitos, comoventes. Poesia misturada com realidade.

Estávamos cinco pessoas no cinema. Uma pessoa saiu a meio. O segundo saiu no início do genérico final. Duas senhoras ficaram mais uns minutos comentando, optimistas, apesar do sentimento de desilusão de ambas, alguns pormenores que lhes tinham agradado no filme.

Para mim, foi, como sempre, um grand tour emocional e fiquei até ao final das últimas letras, cara coberta de lágrimas num turbilhão de emoções e sem conseguir proferir palavra até ir buscar os meus pequeninos à escola.

O filme está obviamente muito bom e foi reconhecido por isso. (Ainda por cima foi o Wim Wenders a entregar o prémio!)

Se comento a reação do público da sessão que fui ver, não é para desdenhar dessas pessoas, tão pouco para me destacar.

Faço-o para mostrar o fosso que sempre senti entre o mundo em que gostava de viver, um mundo rico em criatividade, e aquele em que habito, um mundo essencialmente prático.

Penso que este fosso foi responsável por parte das lágrimas derramadas, sobretudo no final do filme.

Ainda assim, fiquei feliz.

E que bom que foi poder ir hoje ao cinema!

O próprio filme por diversas vezes me comoveu, para além de que é um filme divertido. Poesia misturada com realidade e com sentido de humor.

Obrigada, Miguel Gomes e equipa, que não lê de certeza este blog, ainda assim… obrigada por mais um filme tão especial.

11 agosto 2024

I want to ride my bicycle
I want to ride my bike.
I want to ride my bicycle
I want to ride where I like

Bicycle Race (Jazz, 1978)
Queen

27 abril 2024

Es muss sein: ler

‘- Que estás a fazer?
- Como assim, que estou a fazer? A ler, não? - respondeu ela, como se nada fosse.
- Sim, precisamente, porque te puseste a fazer isso logo agora?
- De repente, deu-me vontade de ler.
Ela mantinha os olhos fixos no livro. Talvez fosse a sua maneira de se subtrair à realidade.’

Uma noite na livraria Morisaki, Satoshi Yagisawa, Editorial Presença

30 março 2024

‘No cabeço, com o livro a queimar-me as mãos, eu senti que não tinha forças para ser melhor. Só sabia seguir por inércia o que a vida me colocava diante.’

A Desumanização, Valter Hugo Mãe, Porto Editora, 2013

21 março 2024

O meu querido aforismo ou o meu possível epitáfio

Melhor do que a perfeição, só o sentido de humor.

07 novembro 2023

Constato, não sei se com espanto, mas certamente horrorizada, que a minha categoria de filmes no film in é ‘filmes de conforto’. É assustador vermo-nos encaixados, reduzidos, simplificados a a uma categoria. Pensei que uma das vantagens de uma plataforma de filmes de qualidade em streaming, era poder enfim evitar categorias. Estava enganada. Encaixo na categoria ‘filmes de conforto’. Lá estão as Mulherzinhas, que eu adorava, quando era eu própria e até tão tarde era ainda uma mulherzinha e que ainda me traz boas recordações. Lá estão tantos outros. Não os vi, mas lá devem estar os filmes do Wim Wenders e tantos dos filmes sobre os quais já escrevi aqui. Categoria ‘filmes de conforto’. Não sei se pertenço a esta categoria por procurar constantemente a beleza e a poesia no dia-a-dia ou se por estar num estado de permanente negação.

21 setembro 2023

Vi o filme O Estado das Coisas, do Wim Wenders (1982). Lindo. Adorei. Comoveu-me que Lisboa e Sintra no filme sejam ainda a Lisboa e a Sintra da minha infância, entretanto quase perdida para os turistas e para os nómadas digitais. O filme é todo lindíssimo, não só pelas imagens belíssimas, mas também por aquela súbita e forçada paragem no tempo, que obriga os personagens, cada um à sua maneira, a matar lentamente o tempo. Que bonito a intimidade com que esse 'matar o tempo' está filmada. Bonito também e tenso é o pressentimento de fatalidade que paira durante todo o filme no ar. Em defesa do seu filme, da beleza das filmagens a preto e branco, da sua história, dos actores que contratou, está o realizador. Só ele não desiste. Só ele é capaz de atravessar um oceano e enfrentar o perigo para encontrar o produtor desaparecido e, assim, poder finalmente terminar o seu filme. Por fim, um desfecho magnífico. Na cena final, o realizador a empunhar a câmara de filmar como uma arma contra um assassino não visível, fez-me lembrar a Rainha Dona Amélia a bater no regicida com o ramo de flores. Trágico. Belo. Obrigada, Wim Wenders, por estes e tantos outros filmes, entre os primeiros da minha lista infindável de filmes preferidos.